Norte-coreanos são obrigados a mudar seus nomes para que soem mais ideológicos

Autoridades locais vêm exigindo que os cidadãos com "não revolucionários o suficiente" adotem identidades mais idológicas

Nos anos 1950, período pós Guerra da Coreia, conflito que dividiu a nação peninsular entre norte e sul, os norte-coreanos davam nomes patrióticos aos filhos, carregados de significado ideológico ou militarista, como Chung Sim (“lealdade”) e Chong Il (“arma”). Com o passar dos anos e um contato maior com o resto do mundo, nomes mais simpáticos, como A Ri (“pessoa amada”), viraram tendência. Agora, em meio a um aumento da beligerância no país, a onda nos cartórios é revisitar o passado. As informações são da rede Radio Free Asia.

Autoridades locais vêm exigindo aos cidadãos com nomes mais suaves, ou que não sejam revolucionários o suficiente, que assumam identidades mais “conceitualmente épicas”. O mesmo vale para os filhos.

“Os residentes estão reclamando que as autoridades estão forçando as pessoas a mudar seus nomes de acordo com os padrões exigidos pelo Estado”, disse sob condição de anonimato um morador da província de North Hamgyong, no nordeste do país.

Um trem movimentado na estação de metrô de Kaeson, Pyongyang (Foto: Thomas Evans/Unsplash)

Segundo ele, desde outubro, avisos para corrigir todos os nomes sem consoantes finais têm sido constantemente emitidos durante reuniões dos chamados inminban, uma forma de organização cooperativa semelhante à vigilância de bairros. Quem possuir um nome “antissocialista” tem prazo até o final do ano para adicionar significados políticos ao nome, “atendendo aos padrões revolucionários”.

Também sem se identificar, um morador da província de Ryanggang, no norte do país, contou que o regime do líder Kim Jong-un também ameaça multar o cidadão que não usar nome fora de contexto político.

“A ordem da autoridade judiciária para mudar imediatamente os nomes dos antissocialistas foi enfatizada em todas as reuniões de moradores desde outubro”, disse ele, acrescentando que não se sabe se o governo realmente aplicará multas ou de quanto elas podem ser. 

Quem não está gostando da medida são os pais, que mostram “forte relutância”, disse a fonte. Alguns questionam de forma irônica se autoridades não forçarão a nomear seus filhos de forma a “refletir a atual era de fome e opressão”. 

No ano passado, Kim chegou a pedir desculpas após anunciar a “tensa” crise alimentar no país, sugerindo como plano nacional para o enfrentamento da fome e aliviar a desnutrição dos norte-coreanos o consumo da carne de cisne negro.

A alimentação precária também se transformou em um problema nos quartéis: militares encaram falta de alimentos e, muitas vezes, se envolvem em casos de assédio, furto e episódios de violência.

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