Coreia do Norte oferece comida extra esporádica a famílias na tentativa de aumentar a natalidade

Autoridades locais estão oferecendo às famílias com três ou mais filhos reforço alimentar duas vezes por ano, de modo a incentivar o nascimento de mais bebês

A escassez crônica de alimentos levou a uma queda na taxa de natalidade da Coreia do Norte. Para amenizar a situação, o governo lançou um programa que leva comida extra para famílias com três ou mais filhos duas vezes por ano, simbolicamente nas datas em que o país celebra o aniversário de ex-líderes históricos. As informações são da rede Radio Free Asia.

Porém, a oferta tem se mostrado insuficiente. A comida adicional, composta por 20 quilos de milho, dois quilos de pasta de soja fermentada e uma garrafa de óleo de cozinha, é muito pouco para estimular a população a acrescentar mais bocas para alimentar em casa.

“É difícil para a maioria das mulheres sobreviver apenas para si mesmas hoje em dia. Então, quem em sã consciência teria três ou mais filhos, como um tolo?”, relatou uma fonte sob condição de anonimato no condado de Ryongchon, no norte de Pyongan. 

“Se as autoridades querem que as mulheres tenham mais filhos, precisam resolver o problema de alimentação e meios de subsistência”, acrescentou.

Jovens estudantes saindo da escola na cidade de Pyoksong (Foto: J-pics/Flickr)

A natalidade em queda representa impactos severos em um país que depende fortemente de mão-de-obra bruta. Tanto que, no exército norte-coreano, que conta com um contingente de 1,3 milhão de soldados, os homens devem cumprir serviço militar obrigatório de sete anos, enquanto as mulheres cinco. 

Lá, as forças armadas não servem apenas para garantir a soberania do país: boa parte do trabalho é direcionada à construção, mineração e em fazendas coletivas.

Ou seja: uma população reduzida repercute em falta de força de trabalho para construir, plantar, colher e cavar. Tudo isso em meio a um cenário de um país que ainda luta para se desenvolver diante das sanções ocidentais impostas por EUA e aliados, que têm pressionado Pyongyang a evitar a proliferação de armas nucleares e cooperar para manter a paz e a estabilidade na península. 

Quanto à adesão ao programa governamental, uma família recebe o status de “filho múltiplo” se tiver três ou mais dependentes que ainda não concluíram o ensino médio, disse a fonte. Apenas 20 famílias se qualificaram em sua cidade, que tem cerca de 6 mil residências.

A comida extra bate à porta das famílias em dois feriados: em 16 de fevereiro, no aniversário de Kim Jong Il, pai do atual líder Kim Jong-un; e no dia 15 de abril, data que marca o nascimento de Kim Il Sung, seu avô e fundador da nação.

“Eles exigem que as mulheres tenham muitos filhos, mas os moradores reclamam que esse tipo de alimentação extra só vem de vez em quando”, disse a fonte.

Nem tão ruim assim se comparada aos vizinhos

A taxa de natalidade da Coreia do Norte é de cerca de 1,8 filhos por mulher, estando não muito abaixo da taxa global de fertilidade, que é de 2,1, segundo dados do Banco Mundial para o ano de 2020.

O número está acima da vizinha Coreia do Sul, a mais baixa do mundo, que é 0,8. E também supera o Japão, que é de 1,3.

Nesses países, os governos adotaram políticas para incentivar os jovens adultos a terem filhos. As medidas incluem licença parental garantida para mães e pais, aumento de salários para novos pais e colocação preferencial em creches para famílias com mais filhos.  

Tags: