Coreia do Norte usa guerra na Ucrânia para testar armas que podem ser usadas contra o Sul

Envio de tropas e armamento para a Rússia preocupa governo sul-coreano e reforça laços militares entre Pyongyang e Moscou

A Coreia do Norte está aproveitando seu apoio à invasão russa da Ucrânia para testar armamentos que poderiam ser utilizados em um eventual conflito contra a Coreia do Sul. A declaração, feita pelo embaixador ucraniano em Seul, Dmytro Ponomarenko, reforça o argumento de que a aliança entre Pyongyang e Moscou não beneficia apenas os russos, que recebem armas e soldados. Também beneficia o regime de Kim Jong-un, que adquire experiência de combate crucial de olho em um eventual conflito futuro.

“Os líderes sul-coreanos não devem esquecer que Pyongyang também usa solo ucraniano como campo de testes para seu armamento, que pode ser usado em um possível impasse futuro na Península Coreana”, disse o diplomata à agência Yonhap.

Desde 2023, a Coreia do Norte tem fornecido à Rússia munições de artilharia, mísseis balísticos de curto alcance, armas convencionais e até tropas, segundo informações dos serviços de inteligência da Coreia do Sul e dos EUA. Estima-se até 12 mil soldados norte-coreanos tenham sido enviados para lutar ao lado das forças russas desde outubro.

Kim Ju-ae, filha do líder norte-coreano Kim Jong-un, ao lado do pai (Foto: KCNA/reprodução)

Relatórios divulgados pelo Departamento de Inteligência de Defesa dos EUA indicam que destroços de um ataque russo ocorrido na Ucrânia, em 2 de janeiro de 2024, são “quase certamente provenientes de um míssil balístico norte-coreano”. De acordo com o relatório, essa evidência demonstra a crescente cooperação militar entre Pyongyang e Moscou.

Ataques mais precisos

Em fevereiro deste ano, duas fontes do alto escalão ucraniano disseram à agência Reuters que os ataques com mísseis balísticos norte-coreanos disparados pela Rússia contra a Ucrânia revelam um dado alarmante: a precisão dos projéteis melhorou de forma significativa. Segundo as mesmas pessoas, o que antes parecia um apoio limitado evidencia que a Coreia do Norte está utilizando o conflito para aperfeiçoar sua tecnologia militar.

Essa evolução tecnológica preocupa especialistas. “Isso pode ter um impacto importante na estabilidade da região e do mundo”, alerta Yang Uk, do Instituto Asan de Estudos de Políticas, em Seul. O receio é o de que a experiência adquirida na Ucrânia possa ser usada para ameaçar países como Coreia do Sul, Japão e até os EUA, além de potencialmente abastecer Estados instáveis e grupos armados.

Embora Moscou e Pyongyang neguem acordos de armamento, a presença de mísseis norte-coreanos nos ataques russos não deixa dúvidas sobre a colaboração crescente entre os dois países. Desde o final do ano passado, a Rússia disparou cerca de cem mísseis K-23, K-23A e K-24 contra a Ucrânia, que aponta também o uso de milhões de projéteis de artilharia e também de soldados norte-coreanos por Moscou.

Resposta sul-coreana

Em meio a essas revelações, o líder norte-coreano Kim Jong-un se reuniu na semana passada com o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Sergei Shoigu, em Pyongyang. Na ocasião, prometeu “apoiar invariavelmente a Rússia na luta pela defesa de seus interesses de segurança no futuro”, conforme noticiado pela agência estatal norte-coreana KCNA.

A Coreia do Sul, por sua vez, ainda hesita em fornecer ajuda letal à Ucrânia, citando políticas comerciais que proíbem exportações de armas que possam comprometer a segurança nacional ou a paz internacional.

Entretanto, o primeiro-ministro sul-coreano Han Duck-soo, que reassumiu o cargo de presidente interino após ter sua destituição anulada pelo Tribunal Constitucional, nesta semana, afirmou que Seul revisará essa política caso a cooperação entre Rússia e Coreia do Norte continue avançando.

“Nesse sentido, acho que a República da Coreia (nome oficial da Coreia do Sul) não tem razão para hesitar no desenvolvimento de cooperação técnico-militar em larga escala com a Ucrânia”, disse Ponomarenko à Yonhap. “É uma questão de interesse tanto para Kiev quanto para Seul.”

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