A suspensão do almirante Miao Hua, um dos principais líderes militares da China, por “graves violações disciplinares”, intensifica a crise de confiança na capacidade do país de realizar uma invasão a Taiwan, objetivo estratégico de Xi Jinping. O escândalo ocorre em meio a investigações sobre outros altos oficiais e reforça dúvidas sobre a prontidão do Exército de Libertação Popular (ELP), segundo reportagem da revista The Economist.
Miao, que integra a poderosa Comissão Militar Central, é próximo a Xi e foi promovido sob sua liderança. Apesar disso, as suspeitas de corrupção colocam em xeque a eficácia das purgas promovidas pelo presidente desde 2012.
“Corrupção não é um erro do sistema; é uma característica inerente de um modelo em que o Partido Comunista (PCC) está acima da lei”, analisa Andrew Erickson, especialista do Colégio de Guerra Naval dos EUA.

Além de afetar o moral interno, os escândalos enfraquecem o poderio militar em áreas cruciais, como a força naval e a divisão de mísseis. Essas unidades são fundamentais para os planos de Xi de modernizar o exército até 2027, prazo estabelecido para que a China esteja pronta para uma ação militar contra Taiwan.
A instabilidade rende alerta de analistas internacionais. “O período de maior perigo provavelmente foi adiado por vários anos, enquanto Xi Jinping aborda a lealdade em suas Forças armadas e os problemas de corrupção”, diz Bonnie Glaser, do Fundo German Marshall,
O atraso pode ser agravado pelo impacto da guerra na Ucrânia, que expôs dificuldades em operações militares complexas, e pelo fortalecimento das alianças militares americanas na região da Ásia-Pacífico.
Apesar da turbulência, especialistas alertam que a crise não deve desacelerar o crescimento militar chinês. Erickson avalia que as investigações são “um obstáculo, não um fator decisivo” para os planos de Xi. A expansão militar, mesmo em meio a escândalos, continua acelerada.
Enquanto isso, a pressão doméstica aumenta. A corrupção nas Forças Armadas, combinada com problemas econômicos e descontentamento social, exige mais do presidente para manter estabilidade interna e projetar força no exterior.
Diante da tal cenário, o futuro da estratégia militar chinesa está em jogo. A meta de Xi Jinping é modernizar as Forças Armadas até 2027, tornando-as aptas a uma possível invasão de Taiwan. No entanto, as investigações por corrupção já atingiram importantes divisões, como a força naval e a unidade de mísseis, fundamentais para qualquer ação militar de grande escala.
Isso paralelamente abre uma oportunidade para os Estados Unidos e seus aliados, que intensificam parcerias militares na Ásia, aumentando a pressão sobre o governo chinês. Erickson, entretanto, diz que cautela nunca é demais, mesmo diante do atual cenário. Segundo ele, os problemas “são fundamentalmente um obstáculo, não um empecilho”.