Crise política na Coreia do Sul: quem está governando o país?

Após tentativa fracassada de uma lei marcial, o governo e Forças armadas ficam à deriva e ameaçam a segurança e a economia do país

A Coreia do Sul vive um momento de profunda incerteza política, com o presidente Yoon Suk-yeol proibido de deixar o país e sob investigação por traição, após sua decisão de declarar a lei marcial na semana passada. Apesar disso, ele permanece no cargo, gerando confusão entre analistas e diplomatas que questionam quem, de fato, está liderando o país. As informações são do Financial Times.

Na última semana, o parlamento sul-coreano foi palco de um impasse político, quando legisladores do partido governante boicotaram a votação que poderia resultar no impeachment de Yoon, garantindo sua permanência no poder. Os líderes de seu partido, o Poder Popular, afirmaram que o presidente se afastaria de suas funções enquanto negociações sobre sua saída estavam em andamento, abrindo espaço para um cenário político cada vez mais nebuloso.

Presidente Yoon Suk Yeol (Foto: WikiCommons)

Quando questionado pelo Financial Times sobre quem está governando a Coreia do Sul, um porta-voz presidencial respondeu de forma vaga: “Não há uma resposta oficial para essa pergunta”. A incerteza sobre a liderança do país é evidente, com especialistas apontando que a falta de clareza sobre quem exerce o comando das forças armadas agrava ainda mais a situação. “Ninguém sabe quem está no comando”, afirmou Karl Friedhoff, especialista em política coreana do Chicago Council on Global Affairs. “Isso é o oposto de uma transição ordenada.”

A situação se torna ainda mais complexa à medida que o primeiro-ministro Han Duck-soo e o líder do partido de Yoon, Han Dong-hoon, anunciaram que o presidente não se envolveria mais em assuntos de Estado enquanto se buscava uma “saída ordeira”. No entanto, acadêmicos jurídicos questionam a legalidade desse acordo, argumentando que a Constituição da Coreia do Sul não prevê a transferência formal de poderes presidenciais para outra pessoa, a menos que o presidente seja permanentemente incapaz ou haja uma votação de impeachment aprovada pela Assembleia Nacional.

Apesar da aparente falta de autoridade de Yoon, especialistas ressaltam que ele ainda é a autoridade final em decisões de Estado. Kim Seon-taek, professor de direito da Universidade da Coreia, afirmou que, legalmente, ele continua sendo o presidente, e que nenhuma decisão pode ser tomada sem sua assinatura. A situação, portanto, se configura como extremamente volátil e incerta.

A crise política também coloca em risco a segurança nacional. A Coreia do Sul enfrenta uma situação de alta tensão com a Coreia do Norte, e a falta de clareza sobre quem está no comando das forças armadas gerou preocupações de que Yoon possa tentar novamente impor a lei marcial. Embora vários oficiais militares tenham declarado publicamente que não obedeceriam a tais ordens, o Ministério da Defesa da Coreia do Sul confirmou que Yoon continua sendo o comandante-em-chefe.

Além disso, a Coreia do Sul está sem um ministro da Defesa após a renúncia de Kim Yong-hyun, causada pelos eventos da semana passada. Embora o primeiro-ministro tenha indicado um substituto, a nomeação ainda precisa da aprovação de Yoon, o que mantém a incerteza sobre a administração do setor de defesa.

A crise política também tem repercussões econômicas. Investidores estão apreensivos com o impacto da instabilidade interna, especialmente em um momento de desafios econômicos globais. A falta de clareza sobre a liderança política levanta questões sobre a capacidade da Coreia do Sul de enfrentar possíveis crises econômicas e geopolíticas. Alguns analistas temem que uma crise intercoreana possa eclodir enquanto o país se encontra em um período de incerteza política.

Enquanto isso, o partido governista parece apostar na estratégia de adiar a saída de Yoon, esperando que isso possa melhorar suas chances nas próximas eleições. No entanto, a oposição também enfrenta seus próprios problemas, com o líder Lee Jae-myung, acusado de envolvimento em um esquema de desvio de recursos para a Coreia do Norte. O caso ainda não foi julgado, mas a acusação pode ter implicações significativas para o futuro político do país.

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