Um discurso do economista Gao Shanwen, chefe da corretora de valores mobiliários SDIC Securities, foi censurado na China após viralizar por criticar a falta de oportunidades para os jovens do país e sugerir que o crescimento econômico tem sido exagerado. A fala ocorreu em uma conferência para investidores em Shenzhen na última terça-feira (3). As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
Durante sua palestra, Gao destacou que, em vez de se engajarem em carreiras promissoras e movimentarem a economia com seu consumo, os jovens chineses estão vivendo em condições apertadas e “apagando as luzes e comendo macarrão”, uma expressão popular que remete a situações de dificuldades financeiras.
“Os jovens hoje não têm perspectivas e estão sendo empurrados para uma vida limitada e sem consumo”, afirmou o economista.
O discurso, que rapidamente circulou nas redes sociais, foi considerado sensível pelas autoridades e removido do perfil Economist Book Club no aplicativo de mensagens WeChat, que havia publicado a fala na íntegra. Quem tentava acessar o link recebia um aviso de que o conteúdo não estava mais disponível devido a “denúncias de violações”.

As palavras de Gao contradizem diretamente as promessas do Partido Comunista Chinês (PCC), liderado por Xi Jinping, de que o consumo dos jovens impulsionaria a retomada do crescimento econômico pós-pandemia. Entretanto, o cenário real é de uma juventude sofrendo com o desemprego e com a dificuldade de sustentar uma vida independente, mesmo com o tom otimista dos meios de comunicação estatais.
Segundo Gao, as áreas da China que possuem populações mais jovens têm mostrado um desempenho econômico inferior desde o fim da política de “Zero Covid“, em dezembro de 2022, em comparação com regiões onde a população é mais envelhecida.
“Quanto mais jovem a população de uma província, mais lento tem sido o crescimento do consumo; quanto mais velha a população, mais rápido o crescimento”, afirmou o especialista.
Ele também questionou os números oficiais de crescimento econômico divulgados pelo governo, que, segundo ele, não refletem a realidade após o colapso do setor imobiliário nos últimos três anos. De acordo com o economista, o crescimento do PIB tem sido superestimado em cerca de três pontos percentuais ao ano, enquanto os dados reais indicariam uma retração de até 4% ao ano.
Ele ressaltou que os jovens não têm conseguido se inserir no mercado de trabalho conforme esperavam. “Para os jovens, as expectativas de renda foram significativamente reduzidas, e a incerteza em relação ao futuro apenas aumentou”, alertou Gao, destacando a dificuldade dos jovens em encontrar empregos compatíveis com suas aspirações.
Enquanto isso, a população mais idosa, que possui uma segurança financeira relativa garantida por pensões, continua a desfrutar de uma vida com menos dificuldades. “Para os idosos, não há impacto em sua renda. Eles podem continuar aproveitando sua velhice”, afirmou Gao.
As declarações do economista chegam em um momento em que o governo chinês se prepara para a Conferência Central de Trabalho Econômico, que acontecerá a portas fechadas nos dias 11 e 12 de dezembro e na qual serão definidas as metas de desenvolvimento econômico e planos de estímulo para 2025.