Entraves burocráticos comprometem repatriação de vítimas de fraudes cibernéticas em Mianmar

Milhares aguardam retorno a seus países, mas burocracia e falta de coordenação internacional tornam o processo lento

A recente repressão contra centros de fraudes cibernéticas em Mianmar libertou mais de seis mil pessoas, mas o processo de repatriação se mostra um desafio complexo. Autoridades do país, bem como de China e Tailândia, enfrentam dificuldades logísticas, burocráticas e diplomáticas para garantir o retorno seguro das vítimas traficadas. As informações são da rede Voice of America (VOA).

De acordo com o porta-voz da Força de Guarda de Fronteira Karen (BGF), tenente-coronel Naing Maung Zaw, os resgatados estão abrigados em condições precárias. “Cerca de 500 pessoas estão amontoadas em armazéns, aumentando os riscos de doenças e tentativas de fuga”, afirma.

A BGF, aliada da junta militar que governa Mianmar, tem um papel fundamental na operação de evacuação, mas a transferência das vítimas para seus países depende de uma rede de cooperação internacional ainda desorganizada.

golpe online
Mianmar e China combatem golpes online (Foto: WikiCommons)

A China tem liderado os esforços de repatriação, mas enfrenta desafios para processar seus cidadãos resgatados. Embora tenha anunciado o retorno de 200 pessoas e planeje repatriar outras 800, Beijing classifica esses indivíduos como “suspeitos em fraudes de call center”, sugerindo que parte dos repatriados pode ser investigada ou julgada por envolvimento em crimes.

O processo se complica ainda mais porque as vítimas resgatadas pertencem a quase 30 nacionalidades, incluindo cidadãos de Indonésia, Vietnã, Malásia, Taiwan, Paquistão, Índia e até do Brasil. A diversidade de origens exige um esforço diplomático coordenado, o que tem atrasado o retorno de muitos.

Na Tailândia, abrigos temporários recebem vítimas enquanto aguardam a resolução de seus casos. Algumas relataram que foram torturadas em centros de fraudes em Mianmar, sofrendo choques elétricos e espancamentos quando não atingiam metas estabelecidas pelos criminosos.

O governo tailandês afirmou que está trabalhando com outros países para garantir a segurança e o retorno dessas pessoas, mas alertou que mais de sete mil ainda aguardam transferência.

A situação também expõe a fragilidade do combate ao tráfico humano na região. Embora a repressão tenha desmantelado vários esquemas criminosos, especialistas alertam que essas redes podem se reorganizar em outros países, como Camboja e Laos. O próprio processo de repatriação, marcado por falhas e atrasos, demonstra as limitações dos governos locais em lidar com crimes transnacionais tão complexos.

Enquanto milhares aguardam para voltar para casa, a incerteza persiste. “Estimamos que dezenas de milhares de pessoas ainda estejam presas nesses centros de fraudes. A repatriação completa levará meses”, diz Naing.

Brasileiros entre os resgatados

Dois brasileiros estavam entre as vítimas traficadas e forçadas a trabalhar em esquemas fraudulentos em Mianmar. A operação que resultou no resgate foi conduzida pelo Exército Beneficente Democrático Karen (DKBA), uma das facções armadas que controlam a região.

Assim como outras vítimas, os brasileiros foram atraídos com promessas de empregos bem remunerados e acabaram presos em centros de golpes virtuais. De acordo com o portal G1, Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, e Luckas Viana dos Santos, de 31 anos, desembarcaram no Brasil no dia 19 de fevereiro.

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