Estado em Mianmar está próximo do colapso, afirma Michelle Bachelet

Alta comissária para os Direitos Humanos cita mais de 1,6 mil mortes após protestos pacíficos na sequência do golpe militar

Mianmar está cada vez mais perto de um colapso, devido às péssimas condições da economia, da saúde, da educação e dos sistemas de proteção social no país. O alerta foi feito nesta segunda-feira (22) pela alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

Bachelet destacou que os direitos humanos do povo de Mianmar estão em profunda crise após 13 meses do golpe militar de 1º de fevereiro de 2021. Em relação ao sistema sanitário, ela enfatizou o que chamou de “consequências arrasadoras” para a resposta à Covid-19. Também disse que os avanços registrados no desenvolvimento do país foram prejudicados pelo conflito e pelo abuso de poder dos militares.

A chefe de direitos humanos da ONU disse haver centenas de grupos localizados de resistência armada que se formaram e geram “violência generalizada em muitas áreas anteriormente estáveis.” O resultado é a piora da crise humanitária e a economia à beira do colapso.

Manifestação contra a junta de Mianmar, abril de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter/Aung Kyaw Khant)

Mais de 14,4 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária em Mianmar. Cálculos de agências do setor indicam que a escassez alimentar aumentará de forma acentuada nos próximos meses, e o Pnud (Programa da ONU para o Desenvolvimento) prevê que o efeito de pandemia e do golpe empurrem quase metade da população birmanesa à pobreza em 2022.

Bachelet citou fontes confiáveis indicando mais de 1,6 mil mortes causadas pelo governo, sendo muitas das vítimas pessoas envolvidas em protestos pacíficos. Após o golpe, mais de 500 mil cidadãos foram forçados a deixar suas casas, e os registros apontam pelo menos 15 mil que fugiram do país. Outros 340 mil se tornaram deslocados internos, juntando-se aos mais de 1 milhão de refugiados rohingyas.

Bachelet descreveu como terrível a situação desta minoria, que segundo ela é “perseguida por décadas” e sem “uma solução à vista”. Para os rohingyas, em Mianmar falta liberdade de movimento e acesso a serviços. A alta comissária lamenta a “falta de soluções duradouras para os deslocados internos e condições que favoreçam a retornos seguros, sustentáveis, dignos e voluntários ao Estado de Rakhine”.

No total, mais de 400 ataques foram realizados pelas forças de segurança do governo em áreas povoadas. Os atos “destruíram milhares de casas e outros edifícios, incluindo igrejas e lojas de alimentos”.

Michelle Bachelet mencionou estatísticas da OMS (Organização Mundial da Saúde) dando conta de pelo menos 286 ataques a instalações e profissionais do setor desde fevereiro de 2021. E acrescentou que a tentativa dos militares de “esmagar toda a oposição” se intensificou com o aumento de ataques a civis.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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