As vozes do povo devem ser ‘ouvidas e amplificadas’ em Mianmar, diz chefe da ONU

António Guterres cobra das forças armadas respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais e pede "diálogo inclusivo" no país

À medida que Mianmar se aproxima do primeiro aniversário do golpe militar que viu a prisão da ícone nacional Aung San Suu Kyi, bem como a dissolução de seu governo civil, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), o português António Guterres, manifestou no domingo (30) sua “solidariedade com o povo” e clamou pelo retorno do país a um sociedade inclusiva e democrática.

Em comunicado divulgado pelo seu porta-voz, Guterres descreveu as múltiplas crises que resultaram da intensificação da violência, violações dos direitos humanos, aumento da pobreza e indiferença ao agravamento das condições humanitárias por parte do regime militar.

“As múltiplas vulnerabilidades de todas as pessoas em Mianmar e suas implicações regionais exigem uma resposta urgente”, diz o comunicado.

Além disso, o acesso humanitário às pessoas necessitadas é “criticamente importante para que as Nações Unidas e seus parceiros continuem a entregar no terreno. As forças armadas e todas as partes interessadas devem respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais. O povo de Mianmar precisa ver resultados concretos”.

Protesto em maio de 2021, em Mianmar, teve a atriz Phone Thiri Kyaw (Foto: Saw Wunna/Unplash)

Os militares birmaneses derrubaram o governo democraticamente eleito liderado por Aung San Suu Kyi e o presidente Win Myint em 1º de fevereiro do ano passado, anunciando um estado de emergência e prendendo líderes democráticos, enquanto reprimiam brutalmente os protestos de rua contra o golpe e a imposição da lei marcial.

Na sexta-feira passada, a chefe de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, lembrou que cerca de 12 mil pessoas continuam detidas arbitrariamente por expressar sua oposição, das quais quase 9 mil permanecem sob custódia e pelo menos 290 morreram na detenção, muitos provavelmente torturadas.

Os confrontos armados aumentaram em frequência e intensidade em todo o país, enquanto a perseguição contra minorias étnicas e religiosas aumentou, inclusive contra os rohingyas.

Bachelet disse que é hora de um “esforço urgente e renovado” para restaurar os direitos humanos e a democracia, e garantir que os autores de “violações e abusos sistêmicos de direitos humanos sejam responsabilizados”.

A enviada especial do secretário-geral, Noeleen Heyzer, tem engajado ativamente todas as partes interessadas em apoio a um processo liderado por Mianmar.

“Ela continuará a mobilizar ações imediatas, inclusive por meio do fortalecimento da cooperação entre a ONU e a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) para atender às necessidades desesperadas do povo de Mianmar”, disse o comunicado do chefe da ONU.

“Isso é crucial para criar um ambiente propício para o diálogo inclusivo”, acrescentou Guterres. “Qualquer solução precisa derivar do envolvimento direto e da escuta atenta de todos os afetados pela crise em curso. Suas vozes devem ser ouvidas e amplificadas.”

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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