EUA reconhecem como ‘genocídio’ as atrocidades das forças de Mianmar contra os rohingyas

Muçulmanos foram vítimas de assassinatos em massa, estupros e perseguições atribuídos às forças de segurança do país do sudeste da Ásia

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acusou neste domingo (20) o exército de Mianmar de ser responsável por um genocídio contra a minoria rohingya em 2017, após a expulsão de mais de 750 mil pessoas de seu território e forçando o êxodo da etnia para Bangladesh. As informações são da Radio Free Asia (RFA).

A fala da autoridade norte-americana ocorreu durante um evento no Museu Memorial do Holocausto dos EUA, em Washington, onde ele participou da exposição intitulada “Caminho da Birmânia para o Genocídio”, que aborda a crise dos rohingyas. O povo tem sido vítima de assassinatos em massa, estupros e perseguições atribuídos às forças de segurança do país do sudeste da Ásia.

“Membros das forças armadas birmanesas cometeram genocídio e crimes contra a humanidade contra os rohingyas”, disse Blinken.

Crianças da etnia rohingya caminham pelo campo de refugiados Cox’s Bazar, em Bangladesh (Foto: EU Civil Protection and Humanitarian Aid/Flickr)

De acordo com a autoridade, a declaração é amparada por uma “análise legal preparada pelo Departamento de Estado, que incluiu documentação detalhada de uma série de fontes independentes e imparciais”.

Perto de um milhão de refugiados rohingya se deslocaram para o vizinho Bangladesh desde o ápice da repressão, em 2017. O fluxo de migração começou depois que militares birmaneses iniciaram uma ação deliberada de “limpeza étnica” contra rebeldes da etnia, de religião muçulmana. Passados cinco anos, hoje a população vive em situação de extrema pobreza no campo de refugiados em Cox’s Bazar, o mais superlotado do mundo, dependendo de assistência humanitária para sobreviver.

Segundo a investigação citada por Blinken, os militares foram responsáveis ​​por atrocidades, que ainda incluem mutilações, crucificações e queima e afogamento de crianças. Ativistas de direitos humanos pressionam há bastante tempo por esforços internacionais para responsabilizar Mianmar por crimes contra a humanidade.

O ativista rohingya britânico Tun Khin observou que o reconhecimento de Washington aumentaria a pressão sobre os militares birmaneses, que em fevereiro de 2021 destituíram a presidente democraticamente eleita Aung San Suu Kyi, estabelecendo um regime autoritário que vem causando mais barbárie.

“Esta designação não apenas coloca um maior escrutínio nas ações de um exército que continua a aterrorizar grandes partes da população, mas permite que os rohingyas saibam que suas vozes foram ouvidas em meio ao sofrimento cruel que continuam a suportar”, disse Khin no domingo, repercutindo a fala de Blinken.

Em comunicado, o grupo de direitos humanos Refugees International, sediado nos EUA, saudou a medida do governo do presidente Joe Biden. “A declaração do genocídio dos EUA é um passo bem-vindo e profundamente significativo”, disse Daniel Sullivan, vice-diretor do grupo para a África, Ásia e Oriente Médio.

Golpe atrapalhou julgamento

Pela sistemática e brutal repressão contra os muçulmanos rohingya no país, Mianmar já enfrenta acusações de genocídio no tribunal da ONU (Organização das Nações Unidas). Investigadores do órgão encontraram evidências de assassinatos extrajudiciais, ou seja, sem o devido julgamento, em Maung Nu e Chut Pyin, aldeias no Estado de Rakhine. Em 2018, militares chegaram a ser condenados a uma década de prisão pela morte de dez rohingyas no vilarejo de Inn Din. Um ano depois, foram libertados.

O caso aberto contra o país na Corte Internacional de Justiça em 2019 teve complicações em consequência do golpe militar orquestrado contra Aung San Suu Kyi e seus aliados, o que desde então tem gerado manifestações em massa e uma sangrenta repressão.

Por que isso importa?

Os rohingyas são muçulmanos e um grupo étnico minoritário em Mianmar (antiga Birmânia), no sudeste da Ásia. Embora vivam nos Estados de Rahkine e Chin (oeste), não têm direito à cidadania do país e são perseguidos pelas autoridades locais.

Cerca de 750 mil pessoas da minoria fugiram para Bangladesh desde 2017. Os refugiados relatam assassinatos e estupros. Grupos de direitos humanos também acusam as tropas de cometer atrocidades em diversas aldeias.

Em Rakhine, existem 600 mil rohingyas, sendo que 148 mil estão em acampamentos para deslocados, vilarejos e outros locais. São civis altamente vulneráveis que precisam de apoio humanitário.  

É comum que essas pessoas lotem embarcações com destino ao vizinho Bangladesh. Na última onda de fugas, em agosto de 2017, ao menos 670 mil deles ocuparam campos de refugiados na cidade de Cox’s Bazar, no extremo leste do país.

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