Estudo reitera ligação de animais do mercado de Wuhan à pandemia de Covid-19

Estudo não exclui totalmente a hipótese de o vírus ter sido introduzido no mercado da cidade chinesa por humanos

Quase cinco anos após o surgimento da Covid-19, a busca pela origem da pandemia continua. Um estudo publicado nesta semana reforça a teoria de que o vírus foi transmitido para humanos por animais infectados em um mercado de frutos do mar e vida selvagem na China, embora a certeza absoluta ainda não tenha sido alcançada.

Uma equipe internacional de pesquisadores divulgou na quinta-feira (19) um estudo revisado por especialistas, afirmando que indícios genéticos sugerem que a pandemia de coronavírus provavelmente teve origem em uma transmissão natural de um ou mais animais comercializados em um mercado em Wuhan, onde vários dos primeiros casos de Covid-19 em humanos foram detectados. As informações são do Washington Post.

O estudo, publicado na revista científica Cell, se apoia em uma pesquisa preliminar divulgada no ano anterior, que sugeria que o cão-guaxinim poderia ser um possível hospedeiro responsável pela transmissão do vírus para humanos. Os pesquisadores acreditam que os animais infectados foram levados ao mercado de Wuhan pela primeira vez no final de novembro de 2019, o que posteriormente deu início à pandemia.

Huanan, mercado de frutos do mar e vida selvagem em Wuhan (Foto: WikiCommons)

O artigo apresenta mais evidências de que a transmissão animal pode ter sido a causa da pandemia, embora não possa descartar completamente a hipótese de que o vírus tenha sido introduzido no mercado por humanos. No entanto, os pesquisadores destacam no estudo que essa segunda teoria é considerada pouco provável.

Por mais de quatro anos, especialistas debateram essas duas teorias principais para a origem da pandemia: transmissão natural de animais ou vazamento de laboratório. O novo estudo reforça a hipótese de transbordamento natural, mas não descarta outras origens. No entanto, a pesquisa tem limitações, pois os dados genéticos coletados logo após o fechamento do mercado de Wuhan não podem confirmar se algum animal estava realmente infectado com o vírus.

Em fevereiro de 2021, a OMS (Organização Mundial da Saúde) descartou qualquer possibilidade de a Covid-19 ter sido criada ou vazada de um laboratório. “Extremamente improvável”, disse a entidade.

Florence Débarre, bióloga evolucionista e coautora do estudo, afirmou que os resultados são compatíveis com a presença de animais infectados, mas “não é possível comprovar essa hipótese”.

Segundo Débarre, o novo estudo publicado na Cell é mais extenso e detalhado, abordando uma gama mais ampla de questões e incluindo mais dados sobre o mercado e os primeiros casos de pacientes do que o relatório informal de 2023 da equipe internacional. Tanto os relatórios anteriores quanto o novo mostram que traços do vírus foram detectados em uma área específica do Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, onde também foram encontrados vestígios genéticos de animais.

Além dos cães-guaxinins, espécies como coelhos e cães, conhecidas por serem suscetíveis ao SARS-CoV-2, foram identificadas nessa área.

Michael Worobey, coautor do novo estudo, explicou que eles identificaram quais subpopulações de animais podem ter transmitido o coronavírus para humanos, o que pode ajudar a localizar onde o vírus circula entre animais, conhecido como seu reservatório natural, repercutiu a rede ABC News. Ele destacou que, no caso dos cães-guaxinins, eles demonstraram que os animais presentes no mercado pertenciam a uma subespécie que habita principalmente o sul da China.

Essa informação pode ajudar os cientistas a rastrear a origem dos animais e os locais onde foram vendidos. A partir disso, os pesquisadores podem começar a coletar amostras de morcegos na região, conhecidos por serem os reservatórios naturais de coronavírus relacionados, como o SARS.

Riscos persistem

James Wood, epidemiologista da Universidade de Cambridge, ressalta a importância desse trabalho científico, lamentando que “quase nenhuma ação foi tomada” para restringir o comércio de animais selvagens vivos, combater a perda de biodiversidade ou lidar com as mudanças no uso da terra, que são os principais fatores por trás de pandemias passadas e futuras.

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