Exército chinês divulga curta-metragem de animação sobre reunificação com Taiwan

Elfos protagonizam filme que reflete a intenção da China de ter a ilha sob seu controle e deixa clara a opção pelo uso da força

No domingo (1º), o Exército de Libertação Popular (ELP) divulgou um novo desenho animado de propaganda, criado em comemoração ao Dia Nacional da China. O vídeo tem como objetivo promover a ideia de reunificação com Taiwan, segundo reportagem da agência Reuters.

Embora mostre criaturas mitológicas, o curta de animação, que imagina a junção de pedaços de uma importante obra de arte local rasgada há séculos, é direto em sua mensagem política e deixa claro que a reunificação entre Beijing e o território semiautônomo não depende de misticismo, mas sim de força.

Feito pelo Comando do Teatro Oriental do ELP, o vídeo apresenta dois elfos e uma pintura do século XIV chamada ‘Habitação nas Montanhas Fuchun’, feita em 1347 pelo pintor da dinastia Yuan Huang Gongwang. A obra, que foi danificada em um incêndio durante a dinastia Qing, acabou dividida em duas partes e agora está em museus diferentes, um em Taiwan e outro na cidade chinesa de Hangzhou.

Parte da obra ‘Habitação nas Montanhas Fuchun’, que retrata a paisagem encantadora do início do outono às margens do rio Fuchun (Foto: WikiCommons)

Intitulado ‘Sonhos Realizados no Rio Fuchun’, o curta-metragem apela para as raízes culturais compartilhadas entre as pessoas dos dois lados do Estreito de Taiwan. No desfecho do filme, os dois personagens mitológicos se unem de maneira mágica, restaurando a pintura completa mais uma vez.

Apesar da atmosfera mágica da animação, há também beligerância. Isso porque foram inseridas cenas do porta-aviões chinês Shandong e caças J-20 durante a jornada dos dois elfos no filme, o que serve como um lembrete das capacidades militares do Comando do Teatro Oriental no campo de batalha. A mensagem implícita é clara: os elfos têm guardiões que os acompanham em sua jornada, e nenhuma potência externa, seja Taiwan ou qualquer outro lugar, pode impedir seu progresso.

No mundo real, as duas partes da pintura histórica chegaram a ser reunidas em 2011. Nesse período, a China emprestou sua parte ao museu taiwanês por dois meses, durante uma fase de relações amigáveis. Isso aconteceu enquanto Taiwan seguia uma política de maior cooperação econômica com Beijing.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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