Extremistas matam dois soldados do exército do Paquistão no noroeste do país

Ataque foi reivindicado pelo Taleban do Paquistão, reforçando a impressão de que o grupo desistiu do cessar-fogo que negociava com Islamabad

Dois membros das forças armadas do Paquistão foram mortos em um ataque realizado por extremistas nas proximidades da cidade de Peshawar, no noroeste do país. A informação foi divulgado na terça-feira (4) pela Inteligência paquistanesa e reproduzida pela rede Gandhara.

“Dois soldados foram mortos e outros cinco ficaram feridos em uma troca de tiros”, disse um oficial dos serviços de Inteligência de Islamabad. Segundo ele, seis agressores também foram mortos no tiroteio com as forças de segurança.

A fonte afirmou que um comboio das forças de segurança seguida de Kohat para Peshawar quando foi atacado perto da área de Matani.

O ataque foi reivindicado pelo Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. Entretanto, a facção extremista afirmou que apenas dois de seus combatentes foram mortos pelos militares.

Cessar-fogo frustrado

As ações recentes do TTP sugerem que o grupo desistiu do cessar-fogo que vinha sendo negociado com Islamabad e tem retornado gradualmente a agir no Paquistão. Agentes das forças de segurança do governo e civis têm sido alvos dos insurgentes nas últimas semanas.

Na terça-feira (27) passada, um ataque realizado por um terrorista suicida deixou 21 soldados feridos no distrito tribal do Waziristão do Norte, também no noroeste do país e um reduto histórico do Taleban local.

O alvo daquele atentado foi um comboio do exército que seguia pela estrada de Mir Ali. Todos os feridos foram imediatamente levados a uma base do exército para receber atendimento.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), o popular Taleban do Paquistão (Foto: reprodução/Twitter)
Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, com quem chegou a firmar dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, mas confrontos esporádicos continuam a ocorrer.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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