Filipinas acusam navio chinês de usar laser contra tripulação de um de seus navios

Manila apresentou quase 200 protestos diplomáticos contra as ações agressivas de Beijing no Mar da China Meridional apenas em 2022

A Guarda Costeira das Filipinas acusou nesta segunda-feira (13) um navio da guarda costeira chinesa de lançar um laser “de nível militar” em alguns membros da sua tripulação, cegando-os temporariamente. O incidente ocorreu na semana passada a bordo de um navio em águas disputadas no Mar da China Meridional. As informações são da agência Associated Press.

O navio chinês também “realizou manobras perigosas” ao se aproximar a 137 metros da embarcação filipina, informou a guarda costeira do arquipélago no Sudeste Asiático em comunicado publicado em sua página oficial no Facebook. A publicação mostra imagens que supostamente registram o feixe verde do laser.  

O incidente teria ocorrido em 6 de fevereiro perto de Ayungin Shoal, na Ilhas Spratly, arquipélago disputado entre Beijing e Manila, embora fique na zona econômica exclusiva (ZEE) das Filipinas. A China, porém, não reconhece a decisão internacional de 2016 que invalidou as reivindicações alheias sobre o território. 

Um vídeo divulgado pela guarda costeira em Manila mostra uma embarcação da guarda costeira chinesa cortando o caminho de uma embarcação filipina à distância. Uma luz verde semelhante a um laser é posteriormente emitida pelo navio chinês, causando cegueira temporária para sua tripulação.

“A Guarda Costeira das Filipinas (PCG) continuará a exercer a devida diligência na proteção da integridade territorial do país contra a agressão estrangeira”, disse a entidade nas redes sociais. “Apesar da manobra perigosa dos navios da Guarda Costeira chinesa e de suas ações agressivas no mar, os navios da PCG estarão sempre no Mar Ocidental das Filipinas para sustentar nossa presença e afirmar nossos direitos soberanos”.

Navio da guarda costeira chinesa fez manobras perigosas próximo a embarcação filipina (Foto: Philippine Coast Guard/Reprodução Facebook)

Após o incidente, a embarcação filipina foi forçada a se afastar da área, onde escoltava uma embarcação de abastecimento com a missão de entregar alimentos e marinheiros a um navio sentinela da marinha encalhado em Second Thomas Shoal (um atol nas Ilhas Spratly) desde 1999, acrescentou a PCG.

Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da China disse na segunda que o navio filipino “entrou nas águas do atol Renai Reef sem a permissão do lado chinês”.

“O navio da polícia marítima chinesa defendeu a soberania e a ordem marítima da China de acordo com a lei doméstica chinesa e a lei internacional”, disse o porta-voz Wang Wenbin, sem especificar que ação o lado chinês tomou, ou seja, sem mencionar o uso de laser.

Na última terça-feira (7), um especialista em segurança marítima já havia denunciado a guarda costeira por “perseguir e assediar” navios policiais filipinos no Mar da China Meridional. O comportamento seria uma resposta ao acordo firmado entre Washington e Manila recentemente que garantirá aos EUA o acesso a mais quatro bases militares no país do Sudeste Asiático, além das cinco já presentes por lá. 

Disputa antiga

Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia.

A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.

No caso específico da relação entre Beijing e Manila, um momento particularmente tenso ocorreu em março de 2022, quando um navio da guarda costeira chinesa realizou “manobras de curta distância” que quase resultaram em colisão com um navio filipino.

Na ocasião, Manila alegou que o navio chinês desrespeitou a conduta náutica quando navegava próximo à ilha Scarborough Shoal, que fica na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) filipina, 124 milhas náuticas a noroeste do continente, e é alvo de disputa internacional.

Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Wang Wenbin disse à época que o país dele tem direitos soberanos sobre Scarborough Shoal. Entretanto, uma arbitragem internacional em Haia, em 2016, invalidou as reivindicações de Beijing sobre a hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.

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