Fotojornalista da Caxemira é impedida de deixar a Índia para receber o Prêmio Pulitzer

Caxemires são alvo de perseguição do governo indiano, situação que gerou até uma manifestação do secretário-geral da ONU

A fotojornalista Sanna Irshad Mattoo, indiana da região da Caxemira, foi impedida de deixar a Índia para receber o Prêmio Pulitzer que ela conquistou em maio deste ano, a serviço da agência Reuters. Embora estivesse com toda a documentação em ordem, ela foi barrada no aeroporto sem qualquer justificativa por parte das autoridades. As informações são do jornal The New York Times.

“Eu estava a caminho de receber o prêmio Pulitzer em Nova York, mas fui parada na imigração no aeroporto de Delhi e impedida de viajar internacionalmente, apesar de possuir um visto e passagem válidos para os EUA”, disse ela em sua conta no Instagram.

Segundo ela, esta é a segunda vez que as autoridades indianas a impedem de deixar o país, sendo a anterior uma viagem a Paris para outra premiação. “Apesar de entrar em contato com vários funcionários após o que aconteceu há alguns meses, nunca recebi nenhuma resposta”, relatou. “Poder participar da cerimônia de premiação era uma oportunidade única na minha vida”.

Da parte do governo indiano, só quem se manifestou foi Kanchan Gupta, consultor do Ministério da Informação. Ele negou que exista atualmente qualquer tipo de “esforço conjunto para manipular ou intimidar” jornalistas.

A fotojornalista indiana Sanna Irshad Mattoo (Foto: reprodução/Instagram)

Entretanto, é justamente esse o argumento que organizações de direitos humanos usam para explicar o caso da fotojornalista. As entidades alegam que existe hoje no país um sistema para assediar e intimidar profissionais de imprensa e ativistas, sobretudo caxemires.

Até a ONU (Organização das Nações Unidas) entrou no debate. Em visita a Mumbai, nesta semana, o secretário-geral António Guterres instou Nova Délhi a respeitar os “direitos e liberdades de jornalistas, ativistas de direitos humanos, estudantes e acadêmicos” e de “comunidades minoritárias”, o que vale para os cidadãos da Caxemira.

“A voz da Índia no cenário global só pode ganhar autoridade e credibilidade com um forte compromisso com a inclusão e o respeito pelos direitos humanos em casa”, declarou Guterres.

Nesse cenário de repressão, os caxemires são um alvo preferencial. A ONG Anistia Internacional afirmou, inclusive, que muitos deles tiveram seus nomes inseridos em uma “lista de proibição de voar”, com ao menos seis casos documentados de figuras proeminentes da região impedidas de deixar a Índia sem uma justificativa legal.

Por que isso importa?

De maioria muçulmana, a Caxemira é disputada por Índia e Paquistão desde que Nova Délhi e Islamabad conquistaram a independência do Reino Unido e se separaram em dois países, em 1947. Desde então, as nações já travaram duas guerras pelo território.

Em 5 de agosto de 2019, o governo da Índia, de orientação nacionalista hindu, retirou os poderes semiautônomos do Estado, tomando-o sob sua responsabilidade. O primeiro-ministro Naremdra Modi também anulou os direitos especiais hereditários que os nativos tinham sobre a propriedade e o emprego de terra na região.

Aprovadas sem orientação democrática, as leis são motivo de ressentimento do povo da Caxemira. Muitos pedem a independência do território da Índia ou a unificação com o vizinho Paquistão.

A Índia tem mais de 500 mil soldados na Caxemira, uma das zonas mais militarizadas do mundo, desde que uma rebelião eclodiu por lá em 1989. O país acusa o Paquistão de apoiar rebeldes armados que lutam pela independência da Caxemira. Islamabad nega as acusações.

Tags: