Guerra na Ucrânia reduziu consideravelmente a venda de petróleo do Brasil para Índia e China

É difícil resistir à oportunidade, vez que a Rússia reduziu o preço como forma de incentivar a compra em meio às sanções ocidentais

Com a guerra na Ucrânia e as sanções impostas por EUA e União Europeia (UE), que suspenderam ou reduziram a compra de petróleo russo, Índia e China tornaram-se a principal alternativa de Moscou para manter as exportações do produto. Quem perdeu com isso foi o Brasil, que viu a venda de petróleo para chineses e indianos cair consideravelmente no primeiro semestre deste ano, segundo o site MercoPress.

Dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), órgão do governo federal brasileiro, apontam que as exportações para a China caíram 36% no primeiro semestre deste ano, enquanto as vendas para a Índia foram reduzidas em 53,8% no mesmo período.

Em números absolutos, a venda para a China caiu de 19,56 milhões de toneladas para 12,5 milhões de toneladas em um ano. No caso da Índia, a exportação entre janeiro e junho deste ano foi de 1,2 milhão de toneladas, contra 2,6 milhões de toneladas nos primeiros seis meses de 2021.

Isso gera uma redução de centenas de milhões de dólares no comércio com os dois países. Beijing pagou ao Brasil US$ 8,07 bilhões pelo petróleo no período em 2021, contra apenas US$ 7,9 bilhões neste ano. Já o dinheiro proveniente de Nova Déhli caiu de US$ 1,09 bilhão para US$ 589 milhões.

Plataforma P-52 da Petrobras em angra dos Reis (Foto: Wikimedia Commons)

Para chineses se indianos, é difícil resistir à oportunidade, vez que a Rússia reduziu o preço do produto como forma de incentivar a compra em meio às sanções ocidentais.

Roberto Dumas, professor de economia internacional do Insper e estrategista-chefe do banco de investimentos Voiter, diz que a relação entre Beijing e Moscou criou uma espécie de mercado paralelo. “É uma aliança vantajosa para a China, que compra petróleo com desconto e depois revende a preço de mercado”, explica.

Segundo ele, a tendência é de que as vendas continuem baixas enquanto durarem as sanções à Rússia. Já os EUA, que poderiam atuar para reduzir ou até impedir esse mercado, faz vista grossa, na opinião de Dumas: “Sem o petróleo russo, o barril teria ido para cerca de US$ 160”, justifica.

Em maio, a Arábia Saudita ficou para trás como principal fornecedor da China, após as importações de petróleo da Rússia terem atingido um nível recorde.

Por que isso importa?

As sanções ocidentais impostas nos últimos meses sufocaram a economia russa, mas não bastam para forçar Moscou a interromper a ação militar na Ucrânia. Em parte isso se deve ao dinheiro que o governo russo continua a embolsar com a venda de energia. Embora a Europa como bloco ainda seja o principal comprador, China e Índia aumentaram consideravelmente a demanda neste ano e renderam à Rússia US$ 24 bilhões nos primeiros meses de guerra.

Uma analise de dados alfandegários feita pela Bloomberg mostra que somente a China pagou US$ 18,9 bilhões por petróleo, gás e carvão russos até o final de maio. O valor é mais que o dobro em relação ao que foi desembolsado no mesmo período de 2021. A Índia, por sua vez, gastou US$ 5,1 bilhões nesse intervalo, mais de cinco vezes acima do que gastou nesse período no ano passado. Para a Rússia, trata-se de uma acréscimo de US$ 13 bilhões nos cofres em comparação com 2021.

“A China já está comprando essencialmente tudo o que a Rússia pode exportar por meio de oleodutos e portos do Pacífico”, disse Lauri Myllyvirta, analista-chefe do Centre for Research on Energy and Clean Air (Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, em tradução literal). “A Índia tem sido o principal comprador das cargas do Atlântico que a Europa não quer mais”.

Os dois mercados se tornarão ainda mais importantes para a Rússia conforme as compras da Europa forem encolhendo, à medida que a proibição ao petróleo russo entrar em vigor. No mês de junho já foi possível notar que as importações chinesas continuaram a aumentar, enquanto as indianas também tendem a crescer. Paralelamente, Moscou tem oferecido preços atraentes para fisgar novos compradores.

Maior importador de energia do mundo, a China faz uso de oleodutos que saem diretamente da Sibéria, o que facilita a parceria. Embora Beijing tenha reduzido o gasto de energia no primeiro semestre deste ano, também devido à nova onda de Covid-19, os pagamentos feitos à Rússia cresceram principalmente devido ao aumento dos preços.

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