Hong Kong proíbe acesso a seis locais usados por órgão de segurança de Beijing

Hotéis e instalações em construção passam a ser considerados áreas restritas sob nova etapa da lei de segurança nacional

Seis locais ocupados pelo Escritório de Segurança Nacional de Beijing em Hong Kong foram oficialmente classificados como “locais proibidos”. A decisão inclui quatro hotéis e dois futuros escritórios permanentes em Kowloon. As medidas fazem parte da aplicação acelerada da nova legislação local conhecida como Artigo 23, de acordo com o site Hong Kong Free Press.

Entre os locais agora restritos estão os hotéis Metropark, City Garden, Island Pacific e CTS (China Travel Service), além de dois terrenos que ainda estão em construção e devem abrigar as futuras sedes do órgão. Segundo o governo, as áreas são estratégicas e precisam ser protegidas contra “atos não autorizados de aproximação ou entrada”.

Bandeiras de Hong Kong (esq.) e China lado a lado (Foto: Lianqing Li/Flickr)

O Escritório de Segurança Nacional, que representa diretamente o governo central da China e opera de forma independente da administração de Hong Kong, foi criado em julho de 2020, logo após a imposição da lei de segurança nacional em resposta aos protestos pró-democracia de 2019.

Inicialmente, o órgão funcionava no Metropark Hotel, em Causeway Bay, e desde então expandiu sua presença na cidade. A Secretaria de Segurança afirmou que os locais contarão com sinalização visível, e o risco de entrada acidental por parte de moradores é considerado “mínimo”.

De acordo com o artigo 23, atividades de espionagem envolvendo locais proibidos — incluindo inspeções presenciais ou por meios eletrônicos — podem ser punidas com até 20 anos de prisão. Já o simples ingresso sem autorização ou desobediência a ordens de guardas ou policiais pode acarretar pena de até dois anos de detenção.

A lei de segurança nacional

Após ser transferido do domínio britânico para o chinês, em 1997, Hong Kong passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Entretanto, apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa de 2019.

A resposta chinesa aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que a partir de junho de 2020 deu ao governo de Hong Kong o poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. O antigo texto vinha sendo usado até março de 2024, quando uma nova lei, ainda mais dura, foi aprovada.

A aprovação do novo texto legal atendeu a uma determinação da Lei Básica, uma espécie de Constituição do território. Ela exigia em seu artigo 23 que um mecanismo legal próprio fosse estabelecido para substituir o anterior, este imposto emergencialmente pela China. A nova versão da lei pune crimes como traição, insurreição, incitação de membros das Forças Armadas ao motim e conluio com forças externas.

Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação vêm diminuindo cada vez mais em Hong Kong desde que a antiga lei entrou em vigor, ampliando a repressão aos dissidentes. Já as autoridades locais reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território.

O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.

Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada.”

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