Investigação indica que Japão compra peixe proveniente da pesca ilegal chinesa

Grupo ambientalista ainda recolheu denúncias de assédio e maus tratos de pesqueiros chineses a trabalhadores indonésios, bem como constatou práticas ilegais

O consumidor japonês que busca frutos do mar no mercado local pode estar adquirindo produtos originários de pesca ilegal chinesa e, paralelamente, financiando os abusos de direitos humanos cometidos no setor. A denúncia foi feita por ambientalistas britânicos da Fundação para a Justiça Ambiental (EJF, da sigla em inglês), e pela agência japonesa Kyodo News.

Foram ouvidos cerca de 70 pescadores indonésios a serviço de 19 pesqueiros chineses que operam na captura de atum nos oceanos Pacífico Ocidental, Índico e Atlântico, e os navios investigados estavam repletos de carga refrigerada com destino ao Japão. Alguns deles eram operados pela subsidiária de uma das principais companhias japonesas, a Mitsubishi.

Atum sendo preparado no mercado de peixe em Tóquio (Foto: Derek Mawhinney/Wikimedia Commons)

Segundo análise de rastreamento por satélite de embarcações e depoimentos de tripulantes indonésios, a EJF concluiu que o atum e o peixe-espada foram transferidos de navios de pesca chineses para cerca de 10 navios japoneses com destino sobretudo ao porto de Shimizu, na província de Shizuoka.

Questionado pela reportagem, um porta-voz da Mitsubishi afirmou que não tinha conhecimento sobre nenhum de seus navios praticando pesca ilegal ou violando direitos humanos. Segundo ele, a companhia verifica regularmente essas violações e agora investigará o caso. “Nossas transações envolvendo atum são feitas de acordo com as regras internacionais”, disse o porta-voz.

A Mitsubishi disse que, embora tenha comprado atum da empresa no passado, não o faz desde abril de 2020, acrescentando que, “se os relatórios forem verdadeiros, é lamentável.”

Práticas ilegais

A reportagem apontou que vários dos pesqueiros chineses pertencem a uma empresa de pesca em águas distantes com sede em Dalian, no nordeste da China, embargada por trabalho escravo pelo governo dos Estados Unidos em maio deste ano.

A pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (IUU) é prejudicial tanto para o ecossistema marinho quanto para as empresas que operam na legalidade. Porém, para as autoridades, é extremamente difícil eliminar o problema devido à falta de monitoramento.

EUA e países da Europa tomaram medidas nos últimos anos para implementar controles de importação sobre as capturas de navios associados à IUU e os abusos dos direitos humanos, enquanto as regulamentações do Japão não se atualizaram.

Em dezembro de 2020, o Japão enfim promulgou uma lei exigindo que os pescadores apresentassem prova de captura, mas atualmente cobre apenas algumas espécies de vida marinha, não o atum. Grupos ambientalistas no país estão pedindo que a lei seja expandida para cobrir todas as espécies, e que isso seja feito com celeridade.

Recentemente, a atividade de barcos pesqueiros chineses nas proximidades das ilhas Senkaku, Mar da China Oriental, aumentou o atrito entre Tóquio e Beijing. 

Assédio e maus tratos

Os pescadores indonésios também disseram à EJF que eram frequentemente vítimas de abusos físicos e verbais pela tripulação chinesa. Horas excessivas de trabalho e remuneração que não honrava os contratos também eram comuns.

Um deles, de 25 anos, que falou sob anonimato, contou que trabalhou por dois anos a bordo de um navio de pesca de atum chinês e relatou que ele e seus colegas muitas vezes não recebiam comida e água suficientes e nem mesmo remédios para tratar ferimentos.

“Estamos gratos que os japoneses estão comprando nosso atum, mas queremos que eles saibam que por trás do atum há uma atividade ilegal desenfreada, e pescadores pobres como nós estão sendo vitimados e sofrendo”, denunciou.

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