Irã realiza ataque no território do Paquistão, que denuncia as mortes de duas crianças

Teerã diz que alvo de seus mísseis e drones era um grupo extremista sunita que opera na porção paquistanesa do Baluchistão

O Irã realizou mais um ataque em solo estrangeiro na terça-feira (16), ao disparar seus mísseis e drones contra a porção paquistanesa do Baluchistão. Segundo o governo do Paquistão, a ofensiva, que visava teoricamente um grupo extremista da região, deixou duas crianças mortas. As informações são da rede BBC.

Teerã, que já havia atacado anteriormente a Síria e o Iraque, alega que o alvo da operação militar mais recente foi o Jaish al-Adl, ou “exército da justiça”, um grupo armado sunita do Baluchistão que habitualmente realiza ataques também no território iraniano. Seus principais alvos, entretanto, são as forças de segurança paquistanesas.

O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos balúchis, um povo muçulmano essencialmente sunita originalmente iraniano que habita a área.

Míssil balístico exibido em desfile de comemoração da Semana da Sagrada Defesa, que lembra a guerra entre Irã e Iraque, Teerã, 2019 (Foto: WikiCommons)

A porção paquistanesa é a mais extensa e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004. Organizações extremistas islâmicas ajudam a aumentar a tensão, que respinga em países vizinhos como o Irã.

A luta dos separatistas é por maior autonomia política em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), anunciado em 2015, estaria sugando as riquezas da região sem melhorar as condições da população local.

Mesmo vendo os balúchis como uma ameaça a seus interesses, Beijing não recebeu bem o ataque do Irã, já que os dois países envolvidos nas hostilidades são aliados chineses.

“Consideramos tanto o Irã quanto o Paquistão vizinhos próximos e grandes países islâmicos”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, em uma coletiva de imprensa nesta quarta (17), cujo conteúdo foi reproduzido pela rede France 24.

“Pedimos a ambos os lados que exerçam moderação, evitem ações que possam levar a uma escalada de tensão e trabalhem juntos para manter a paz e a estabilidade”, acrescentou a autoridade chinesa.

De acordo com o Irã, drones e mísseis de precisão foram usados para atacar duas posições do Jaish al-Adl. Já Islamabad reagiu ao que chamou de uma  “violação não provocada do seu espaço aéreo pelo Irã” e disse que a agressão pode gerar “sérias consequências”, sem especificar uma eventual retaliação.

“É ainda mais preocupante que este ato ilegal tenha ocorrido apesar da existência de vários canais de comunicação entre o Paquistão e o Irã”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores paquistanês, segundo o qual “duas crianças inocentes” foram vitimadas.

A rede CNN relatou ainda a manifestação do grupo extremista atingido, que relatou seis drones e uma série de mísseis disparados pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) do Irã. A organização alega que residências onde estavam mulheres e filhos de combatentes foram atingidas.

Informações adicionais sobre as vítimas são desencontradas. De acordo com a CNN, autoridades balúchis disseram que duas meninas, uma de oito anos e outra de 12, foram mortas. Já a agência Associated Press (AP), citando como fonte o governo paquistanês, fala em uma menina de sete anos e um menino de 11 anos mortos.

Oriente Médio em ebulição

O episódio ocorre em meio à crescente tensão no Oriente Médio, iniciada pelo ataque do Hamas em território israelense que deixou 1,2 mil pessoas mortas no dia 7 de outubro de 2023. A resposta de Israel foi dura, e desde então a Faixa de Gaza está sob fogo permanente, com mais 23 mil palestinos mortos.

Líbano já havia sido arrastado para as hostilidades, com um comandante do Hezbollah morto por Israel no sul do território libanês na semana passada. O Mar Vermelho também virou uma zona de batalha devido aos ataques do rebeldes Houthis, do Iêmen, contra embarcações comerciais.

Até então, Teerã vinha tendo participação essencialmente indireta, como apoiador tanto do Hezbollah quanto dos Houthis. Agora isso mudou definitivamente, e até o Paquistão pode ser arrastado para um conflito regional que se espalha cada vez mais.

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