Jornalista chinesa é expulsa da Suécia por suposta ameaça à segurança nacional

Episódio agrava as relações entre Estocolmo e Beijing, que têm sido tensas há anos

Na segunda-feira (8), a Suécia expulsou uma jornalista chinesa, alegando que ela representava uma ameaça à segurança nacional, conforme relatado pela mídia local. Ela teria tido contatos com a Embaixada da China e com pessoas em Estocolmo ligadas ao governo chinês. As informações foram reproduzidas pela agência Associated Press.

A repórter, de 57 anos e não identificada, foi detida pelos serviços de segurança sueco em outubro e deportada na semana passada, estando proibida de retornar ao país. Ela residia na Suécia há duas décadas, de onde também cobriu notícias na Noruega e outros países nórdicos. Além disso, possuía autorização de residência e era casada com um cidadão sueco, segundo a emissora SVT.

O advogado da jornalista, Leutrim Kadriu, contestou as alegações, mas não pôde fornecer detalhes devido à natureza sensível da questão.

Carro de polícia sueco (Foto: WikiCommons)

As relações entre Suécia e China têm sido tensas, com incidentes anteriores envolvendo espionagem e prisões controversas. Em 2018, um tribunal sueco condenou um homem a 22 meses de prisão por espionar tibetanos para a China.

No ano seguinte, um tribunal chinês sentenciou o cidadão sueco nascido na China, Gui Minhai, a 10 anos de prisão por vender livros críticos ao Partido Comunista Chinês (PCC). A Suécia tem buscado sua libertação, desencadeando reações adversas da China, que previamente já havia sido acusada de sequestrar Gui em 2015.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, as percepções da República Popular da China (RPC) mudaram fundamentalmente nos países nórdicos, à medida que preocupações relacionadas à segurança e questões políticas sensíveis vieram à tona, segundo artigo de Andreas B. Forsby publicado em 2022 em A Referência. Esse desenvolvimento tem sido particularmente perceptível desde 2019, quando a controvérsia da Huawei, os protestos de Hong Kong e a revelação de campos de detenção em massa em Xinjiang levaram os governos nórdicos a reavaliar suas relações com Beijing. De fato, eles agora veem a China como “um rival sistêmico”, um termo usado pela primeira vez em março de 2019 pela Comissão da União Europeia (UE) em seu documento de estratégia para a China e recentemente também adotado pelos governos finlandês e dinamarquês para descrever suas relações com a China.

Para alguns dos países nórdicos, como Dinamarca e Suécia, a deterioração geral das relações bilaterais com a China foi exacerbada por disputas específicas com Beijing. No caso da Dinamarca, uma caricatura satírica da bandeira chinesa com símbolos de coronavírus, a construção de uma escultura do “pilar da vergonha” em frente ao parlamento dinamarquês e as sanções chinesas contra a ONG Alliance of Democracies, com sede em Copenhague, pressionaram severamente o relacionamento. Quanto à Suécia, o caso Gui Minhai e a proibição explícita da Huawei imposta pelas autoridades suecas, juntamente com a “diplomacia de espingarda” praticada pelo embaixador chinês na Suécia de 2017-21, afetaram fortemente as relações bilaterais.

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