O Laos se tornou um parceiro problemático para a China na Nova Rota da Seda

Trens de alta velocidade modernizaram o país, mas as comunidades reassentadas estão insatisfeitas, e a dívida externa disparou

A iniciativa Nova Rota da Seda (BRI, da sigla em inglês) teve um impacto significativo no Laos, no Sudeste Asiático, transformando-o de maneira radical.

A construção da ferrovia China-Laos, avaliada em US$ 5,9 bilhões, aproximou o pequeno país de seu objetivo de ter acesso ao mar, mesmo não possuindo litoral. Isso facilitou a vida de turistas de alto poder aquisitivo laosianos e chineses, que agora podem viajar confortavelmente pelo país em trens de alta velocidade através das belas e pitorescas paisagens da região.

No entanto, quase dois anos após a inauguração da ferrovia em dezembro de 2021, os benefícios econômicos desse investimento não foram igualmente distribuídos, como apontou reportagem da rede Radio Free Asia (RFA). Parte das classes menos favorecidas têm problemas, particularmente a dos agricultores. Além disso, a dívida do país disparou.

Inauguração da ferrovia Laos-China, dezembro de 2021 (Foto: Embassy of Timor-Leste in Vientiane/Divulgação)

Cerca de sete mil famílias foram impactadas pela situação e demonstram insatisfação com as condições de reassentamento, relatando perdas. Enquanto algumas delas se beneficiaram do desenvolvimento econômico ao longo da rota da ferrovia, outras enfrentam dificuldades significativas para garantir sua sobrevivência, conforme relataram à reportagem.

Um morador do distrito de Xieng Ngeun, localizado na província de Luang Prabang, revelou que gasta pelo menos duas horas caminhando para poder cultivar arroz. “Dispomos de habitação, mas não possuímos terras. Para acessar nossas antigas áreas de cultivo, é necessário subir uma montanha”, lamentou.

Até junho de 2023, o projeto ferroviário afetou 6.855 famílias em cinco províncias. O governo do Laos afirma ter compensado 5.837 famílias com 1,4 bilhão de kip (equivalente a 72 milhões de dólares), deixando ainda 1.018 famílias sem uma compensação adequada. Essas disparidades, juntamente com a falta de compensação suficiente, têm causado insatisfação entre os deslocados, que frequentemente se sentem incapazes de apresentar reclamações às autoridades.

Além dos impactos sociais, Laos está enfrentando problemas sérios relacionados à dívida gerada pelos investimentos chineses em infraestrutura, como, além da ferrovia, barragens hidrelétricas, o que gerou instabilidade econômica no país. Isso resultou em alta inflação, desvalorização da moeda e um futuro incerto. Algumas agências de classificação de risco até alertaram sobre a possibilidade de inadimplência nos empréstimos a credores estrangeiros.

Durante muitas décadas, o governo do Laos dependeu fortemente da assistência financeira internacional para sustentar sua economia. No entanto, as obrigações financeiras resultantes de megaprojetos agora deixaram o país em uma situação de endividamento considerável.

De acordo com o Banco Mundial, em 2022, a dívida pública do Laos atingiu 110% de seu Produto Interno Bruto (PIB), sendo que aproximadamente metade dessa dívida é devida a Beijing.

Portanto, à medida que a BRI completa 10 anos, fica a pergunta se o Laos saiu ganhando ou perdendo ao se envolver no ambicioso plano de expansão de infraestrutura e investimentos da China em toda a Ásia e além.

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