Líder de Mianmar é condenada a mais três anos de prisão por fraude eleitoral

Esta é a nona sentença proferida contra Aung San Suu Kyi, que ganhou o Nobel da Paz e já cumpria uma pena de mais de 17 anos

Nesta sexta-feira (2), a Justiça de Mianmar considerou culpada de fraude eleitoral a líder nacional Aung San Suu Kyi, que foi presa pelos militares após o golpe de Estado de fevereiro de 2021. A sentença é de mais três anos de prisão e trabalhos forçados, segundo informações da agência Reuters.

De acordo com uma fonte familiarizada com o processo judicial, ela foi julgada por ter cometido fraude na eleição geral de novembro de 2020, na qual sua Liga Nacional para a Democracia (NLD) venceu com esmagadora maioria legislativa. Os aliados dela e entidades humanitárias consideram as acusações politicamente motivadas.

A fonte, que não quis ser identificada porque não estava autorizada a falar com a mídia, disse que não estava claro o que o trabalho forçado implicaria. Win Myint, presidente deposto no golpe, recebeu a mesma sentença, disse a fonte.

Os militares tomaram o poder em fevereiro de 2021 para impedir o NLD de Suu Kyi de formar um novo governo após a eleição. Segundo os militares, houve milhares de casos de fraude não investigados durante o pleito. O partido NLD nega a fraude e diz que ganhou de forma justa.

Suu Kyi, 77, está sendo julgada há mais de um ano por várias acusações, desde corrupção e incitação até vazamentos de segredos oficiais, para as quais as sentenças máximas combinadas podem chegar a mais de 190 anos. Com os três anos de pena anunciados nesta semana, a condenação já supera os 20 anos.

A ativista e ex-presidente de Mianmar Aung San Suu Kyi, na Rússia, em abril de 2019 (Foto: Kremlin)
Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1252 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram por meio de redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado.

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