Londres impõe derrota a Beijing e proíbe a construção de uma nova embaixada

Decisão regional coloca o governo britânico contra a parede, pois a manutenção do veto ampliaria a tensão com a China

Autoridades regionais britânicas votaram, na quinta-feira passada (1º), contra a concessão de uma autorização à China para construção da nova sede de sua embaixada em Londres. A surpreendente decisão evidencia o momento de tensão diplomática entre os dois países e coloca contra a parede o governo do Reino Unido, que tem o poder de reverter a decisão.

Funcionários do setor de desenvolvimento do conselho distrital de Tower Hamlets alegaram temor com a segurança, impacto no turismo, no policiamento de trânsito e no patrimônio da área. Assim, votaram unanimemente contra o projeto de Beijing, que usaria o antigo prédio da Casa da Moeda Real.

A decisão causou surpresa porque o arquiteto responsável havia dito anteriormente que o projeto seria aprovado sem problemas. “Os oficiais recomendaram que a permissão de planejamento e o consentimento de construção listada sejam concedidos”, disse David Chipperfield na quarta-feira (30), um dia antes da votação, de acordo com a rede CNN.

Prédio da Embaixada da China em Londres: influência chinesa em expansão (Foto: WikiCommons)

Nas horas seguintes à fala do arquiteto, o conselho distrital se reuniu e anunciou o veto. “O comitê decidiu rejeitar o pedido devido a preocupações com o impacto na segurança de residentes e turistas, patrimônio, recursos policiais e a natureza congestionada da área. O pedido agora será encaminhado ao prefeito de Londres antes que a decisão final seja emitida”, disse um porta-voz do órgão.

Agora, o problema cai no colo do governo britânico, que tem o poder de anular o veto. Caso opte por manter a decisão, tende a prejudicar ainda mais a já conturbada relação com Beijing.

Se aprovadas, as reformas transformariam a embaixada chinesa na maior de Londres, sendo também a maior instalação diplomática da China em todo o mundo. Somente o sistema de vigilância das instalações teria custado em torno de US$ 245 mil (R$ 1,28 milhão).

Os planos não incluem apenas a embaixada em si, mas também uma área voltada ao intercâmbio cultural e um espaço para abrigar centenas de funcionários, inclusive com dormitórios. Trata-se de um edifício comprado por Beijing em 2018 por cerca de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão) e que tem cerca de dez vezes o tamanho da atual embaixada na cidade.

Minorias aliviadas

A decisão de vetar o projeto foi bem recebida por grupos que fazem oposição à China, de acordo com a rede Radio Free Asia (RFA). Simon Cheng, que representa uma entidade de cidadãos honcongueses em Londres, lembrou do recente incidente envolvendo um conterrâneo agredido por funcionários do consulado da China em Manchester.

“O plano de transferir a embaixada chinesa para a Casa da Moeda Real fazia parte de um plano elaborado para dominar e monitorar cidadãos de Hong Kong, uigures, tibetanos e chineses na capital britânica e era um perigo para a soberania britânica”, afirmou ele, que trabalhou para a diplomacia britânica em Hong Kong e alega ter sido preso e torturado durante os protestos pró-democracia no território em 2019.

Rahima Mahmut, uma ativista pelos direitos dos uigures, minoria étnica que sofre violenta repressão por parte de Beijing, também festejou a decisão. “Só porque você tem muito dinheiro, não significa que pode fazer qualquer coisa”, disse. “Particularmente no Reino Unido, que é um país onde os direitos humanos são respeitados e onde a voz do povo, seus desejos e exigências são levados extremamente a sério”.

Por outro lado, a decisão foi contestada pelo Ministério das Relações Exteriores da China, que se manifestou através de um porta-voz. “O planejamento e a aprovação das novas instalações da embaixada da China no Reino Unido foram realizados com base no cumprimento das leis e regulamentos locais relacionados ao planejamento de edifícios”, disse a pasta em comunicado.

Beijing alega que a nova embaixada permitiria ao governo chinês centralizar processos administrativos e serviços oferecidos a seus cidadãos em um só lugar. “Vários escritórios, incluindo vistos, educação, tecnologia, etc., estão localizados em outros lugares de Londres, o que costuma ser inconveniente para suas operações”, diz artigo publicado no Global Times, um tabloide nacionalista ligado ao PCC.

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