Navios partem da China rumo ao Irã com materiais para produção de mísseis, dizem autoridades

Material é suficiente para produzir propelentes de 260 mísseis de médio alcance. A carga, destinada à Guarda Revolucionária Islâmica, reacende críticas dos EUA sobre o apoio chinês ao regime iraniano

Dois navios de carga iranianos estão transportando mais de mil toneladas de perclorato de sódio, um químico essencial para a produção de propelentes sólidos de mísseis, de portos chineses para o Irã. A informação foi confirmada por autoridades de segurança de dois países ocidentais, que apontam a temida Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), instituição militar oficial da República Islâmica, como destinatária da carga. As informações são do Financial Times.

As embarcações Golbon e Jairan, ambas de bandeira iraniana, devem completar a viagem sem escalas e chegar ao porto de Bandar Abbas, no sul do Irã. A carga, que inclui 56 contêineres, tem potencial para produzir 960 toneladas de perclorato de amônio, responsável por cerca de 70% do propelente sólido de mísseis. Segundo os oficiais, isso seria suficiente para abastecer 260 mísseis iranianos de médio alcance, como o Kheibar Shekan ou o Haj Qassem.

O perclorato de amônio está sob controle do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR, na sigla em inglês), que regula a proliferação de tecnologias relacionadas a armamentos balísticos. Apesar disso, as autoridades não conseguiram confirmar se o governo chinês tinha conhecimento do envio.

Míssil balístico exibido em desfile de comemoração da Semana da Sagrada Defesa, que lembra a guerra entre Irã e Iraque, Teerã, 2019 (Foto: WikiCommons)
Monitoramento

Os dados do rastreador Marine Traffic mostram que o Golbon zarpou na última terça-feira da ilha chinesa de Daishan, após dias atracado na região. O Jairan, por sua vez, está ancorado ao sul de Daishan e deve iniciar a viagem no início de fevereiro. Ambos os navios têm como destino o Irã e são de propriedade de entidades ligadas ao governo iraniano.

As autoridades afirmam que os contêineres foram inicialmente carregados no porto de Taicang, próximo a Xangai, e que a viagem até o Golfo Pérsico deve durar cerca de três semanas.

Reações

A situação reacendeu críticas contra a China por parte dos EUA e aliados, que acusam Beijing de apoiar regimes como o iraniano e o russo, muitas vezes à margem de sanções internacionais. Nos últimos anos, Washington aumentou a pressão sobre o país asiático para evitar o envio de materiais com uso militar tanto para o Irã quanto para a Rússia.

A embaixada chinesa nos Estados Unidos afirmou desconhecer o caso e reiterou o compromisso de Beijing em buscar a paz no Oriente Médio, bem como soluções diplomáticas para a questão nuclear iraniana. O governo do Irã não comentou o assunto.

Um histórico de cooperação militar

Dennis Wilder, ex-analista da CIA e especialista em China, apontou que a relação entre os dois países remonta a 1979, quando a China começou a fornecer armas ao Irã. Durante a guerra Irã-Iraque, nos anos 1980, Beijing vendeu mísseis antinavio “Silkworm” ao regime iraniano e, na década seguinte, passou a apoiar o programa de mísseis balísticos do país com tecnologia, peças e treinamento.

Para Wilder, o apoio contínuo da China ao Irã reflete interesses estratégicos. Beijing se beneficia da compra de petróleo iraniano a preços reduzidos e de uma aliança contra o que ambos os países percebem como hegemonismo dos EUA.

Enquanto isso, críticos do governo Biden alegam que as sanções contra o Irã e a pressão sobre a China não têm sido aplicadas de forma efetiva, permitindo que fluxos comerciais controversos continuem acontecendo.

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