Contaminação pelo novo coronavírus ou a fome: os nômades afegãos, os kuchis, precisam enfrentar esse dilema desde que a pandemia do Covid-19 chegou ao país, em meados de março.
Até esta quarta (1º), o Afeganistão registrou 32 mil casos da doença e 807 mortes, segundo dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Os kuchis ganham a vida pastoreando ovelhas, cabras e camelos ao redor do país. Com os bloqueios impostos para evitar a disseminação do vírus, o trabalho se tornou muito difícil.
As restrições põem em risco o comércio de gado e de produtos lácteos, o que prejudica a renda e a capacidade de colocar comida na mesa.
Segundo o Ifad (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola), em áreas como Nangarhar e Logas, os kuchis estão ganhando 40% a menos com os cordeiros, na comparação com o período antes da pandemia.

Os impactos da crise de saúde incluem ainda o aumento no preço de alimentos na região. A farinha de trigo, por exemplo, ficou 18% mais cara entre março e junho deste ano. O preço de leguminosas, açúcar e arroz aumentou 22%.
Os nômades afegãos estão entre os grupos mais pobres e marginalizados do Afeganistão. Décadas de conflito, seca e degradação das áreas de pastagem prejudicaram os meios de subsistência. Atualmente, cerca de 30% dos 1,5 milhão de kuchis enfrenta insegurança alimentar.
Na tentativa de minimizar os impactos da pandemia entre os kuchis, o IFAD promove uma campanha de conscientização sobre o vírus com mais de 160 nômades afegãos que foram capacitados como veterinários por um projeto criado em 2015.
Além disso, kits de higiene, que incluem máscaras de proteção e sabonetes, foram distribuídos em 48 mil lares kuchis.