O plano de Xi Jinping para conquistar o mundo por meio de obras e empréstimos a países pobres

Em um cenário global de tensões políticas e comerciais, Beijing amplia investimentos em infraestrutura e energia no Sul Global, consolidando influência e criando novos mercados fora dos Estados Unidos

A Iniciativa Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative) está em plena expansão. Mesmo diante da instabilidade gerada pelo governo Donald Trump, o líder chinês Xi Jinping vê oportunidades em países pobres e em desenvolvimento para fortalecer sua influência global. As informações são do The Economist.

Lançado em 2013, o megaprojeto tem como objetivo impulsionar o comércio e o crescimento por meio da construção de portos, como o megaporto de Chancay, no Peru, ferrovias, usinas de energia e obras de infraestrutura, movimentando empresas estatais e privadas chinesas em mais de 150 países.

Nos últimos dois anos, os investimentos da Nova Rota da Seda se recuperaram fortemente após a pandemia, atingindo níveis recordes. Em 2024, o valor total dos projetos chegou a US$ 122 bilhões, e apenas no primeiro semestre de 2025, ultrapassou US$ 123 bilhões, segundo dados do pesquisador Christoph Nedopil, da Universidade Griffith, na Austrália.

Rodovia no Quirguistão: quase metade da dívida externa do país se deve ao projeto chinês de infraestrutura Nova Rota da Seda (Foto: Pixabay/Divulgação)
O Sul Global como novo foco comercial da China

As exportações chinesas para os Estados Unidos continuam em queda, caindo de quase 20% em 2018 para menos de 12% em 2025. Essa lacuna está sendo compensada pelo Sul Global, com destaque para África, América Latina e Sudeste Asiático.

De acordo com a S&P Global, o Sul Global deve responder por 44% das exportações chinesas em 2024, frente aos 35% registrados em 2015. A região já é responsável por mais da metade do superávit comercial global da China.

Essa expansão está diretamente ligada à Nova Rota da Seda, que não apenas viabiliza novos mercados, mas também reconfigura rotas comerciais, oferecendo alternativas para contornar tarifas impostas por Trump e ampliar o alcance dos produtos chineses.

Investimentos “pequenos, mas belos” — nem sempre

Em 2021, Xi Jinping prometeu transformar a Nova Rota da Seda em uma iniciativa “pequena, mas bela”, priorizando projetos sustentáveis, como energia limpa e telecomunicações, e abandonando o financiamento de usinas a carvão.

No entanto, os números recentes mostram que os megaprojetos continuam dominando. Dos US$ 39 bilhões investidos na África no primeiro semestre de 2025, US$ 20 bilhões foram destinados à construção de instalações de petróleo e gás na Nigéria. Outro montante semelhante foi aplicado no Cazaquistão, em projetos de mineração de cobre e alumínio.

Ainda assim, a transição verde começa a ganhar espaço. Os investimentos chineses em energia solar, eólica e de resíduos chegaram a US$ 11,8 bilhões em 2024, alta de 24%, o maior volume já registrado na história da iniciativa.

O lado geopolítico da expansão chinesa

Mais do que crescimento econômico, a Nova Rota da Seda é também uma ferramenta geopolítica. Desde 2013, o programa movimentou US$ 1,3 trilhão em contratos e investimentos, e a China espera converter essa influência em apoio político internacional.

Cerca de 70 países que participam da iniciativa já adotaram a linguagem diplomática promovida por Beijing de que “todos os esforços” devem ser feitos para alcançar a unificação com Taiwan, o que, na prática, implica aceitar o uso potencial da força.

Críticas, dívidas e dependência

A rápida expansão da Nova Rota da Seda não vem sem riscos. Muitos países participantes enfrentam dívidas crescentes com a China e déficits comerciais cada vez maiores.

Um relatório do Lowy Institute, da Austrália, aponta que a China passou de provedora de capital a dreno financeiro líquido para vários países do Sul Global, já que os pagamentos da dívida agora superam amplamente os novos empréstimos. Isso aumenta a vulnerabilidade fiscal, especialmente na África, e ameaça áreas essenciais como saúde, educação e combate à pobreza.

Apesar das críticas, especialistas observam que a dependência tecnológica e financeira mantém muitos países próximos de Beijing. Em troca, a China ganha espaço para moldar um “novo paradigma de governança global”, como descreve uma recente publicação do Partido Comunista Chinês.

Um mundo dividido entre Trump e Xi

Enquanto os Estados Unidos adotam medidas como o aumento de tarifas e barreiras comerciais, a China direciona seus esforços para investimentos em infraestrutura, como pontes, portos e parcerias internacionais. As estratégias refletem diferentes abordagens de liderança global: uma centrada na proteção econômica e no controle de mercados, e outra voltada à expansão de influência por meio da cooperação e do desenvolvimento.

Tags: