Entidades humanitárias pedem libertação de advogado chinês desaparecido há seis anos

Mulher do profissional diz que não teve qualquer contato ou atualização sobre o paradeiro dele desde o desaparecimento

Seis anos se passaram desde que o renomado advogado de direitos humanos Gao Zhisheng desapareceu de casa, na província de Shaanxi, norte da China. Desde então, dezenas de grupos de defesa dos direitos fundamentais e sua família têm exigido a libertação dele. As informações são da rede Radio Free Asia.

A esposa de Gao, Geng He, revelou que não teve qualquer contato ou atualização sobre o paradeiro do marido desde o desaparecimento. Ele teria sido detido cerca de um ano após lançar um livro de memórias descrevendo torturas sofridas na prisão.

Durante um ato pela liberdade do advogado em San Francisco, nos EUA, realizado no último fim de semana, Geng expressou sua angústia: “Ao longo dos seis anos de busca por Gao Zhisheng, cada dia pareceu equivaler a um ano. Sempre que olho para o meu telefone, lembro-me de como outras pessoas podem ver fotos e vídeos de seus entes queridos, mas nossa família não tem nada disso.”

Gao Zhisheng está desaparecido desde 2017 (Foto: Anistia Internacional/Reprodução)

No aniversário do desaparecimento de Gao, em 13 de agosto, Geng lamentou: “Não temos fotos, vídeos ou mesmo um número de telefone dele. Não sabemos onde ele está ou se ainda está vivo.”

Durante o evento, Fang Zheng, líder da Chinese Democracy Education Foundation, ONG com sede nos Estados Unidos, clamou: “Queremos gritar para Xi Jinping: liberte Gao Zhisheng. Queremos saber o paradeiro de Gao Zhisheng.”

“Pedimos às autoridades chinesas que libertem imediatamente o proeminente advogado de direitos humanos Gao Zhisheng”, disse uma carta aberta assinada por dezenas de grupos, entre eles Chinese Human Rights Defenders, Humanitarian China e Freedom House.

Pelo Twitter, a ONG Anistia Internacional disse que Gao “é vítima de desaparecimento forçado, alvo do governo chinês devido ao seu trabalho pacífico”. E acrescentou: “Pedimos novamente a libertação incondicional de Gao”.

Zhisheng, que no passado foi um profissional elogiado pelo governo, teve sua trajetória drasticamente alterada ao se tornar um alvo das autoridades. Sua mudança de status aconteceu após ele assumir a defesa das pessoas mais vulneráveis da China, incluindo cristãos, mineiros de carvão e seguidores do movimento espiritual proibido Falun Gong.

No seu livro de memórias lançado em 2016, Gao relatou as torturas que enfrentou pelas mãos das autoridades durante seu período na prisão. O livro também detalhou três anos de confinamento solitário, durante os quais encontrou apoio em “sua fé cristã e suas esperanças para o futuro da China”, conforme relatado na obra.

Jogado à escuridão

Zhisheng desapareceu de Shaanxi em agosto de 2017, onde estava sob prisão domiciliar desde sua libertação da prisão três anos antes. A polícia local negou qualquer envolvimento quando contatada pela família.

O Gao Zhisheng Lawyers’ Concern Group, liderado pelo ativista de direitos humanos Ai Ming, afirmou em dezembro de 2017 que havia rastreado Gao e divulgou um breve áudio em que ele descrevia condições ainda piores do que aquelas que experimentara na prisão. Na mensagem, Gao relata estar sendo mantido em total escuridão, com janelas vedadas para bloquear qualquer luz natural.

Ele revelou: “As condições na prisão de Shaya não eram tão terríveis. Durante meu tempo lá, houve ocasiões em que me trancaram na cela e tive que sair do prédio da prisão duas vezes durante esses três anos.”

O confinamento foi descrito pelo advogado como uma “escuridão infinita”, lançando luz sobre suas circunstâncias precárias. Na época, autoridades indicaram que o caso estava sob a gestão da equipe local de “manutenção da estabilidade”.

Em 2020, o governo chinês respondeu a uma carta de seis relatores especiais da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o paradeiro de Gao Zhisheng, afirmando que ele havia sido libertado em agosto de 2014 após cumprir sua pena e que nenhuma medida coercitiva tinha sido tomada contra ele desde então.

Grupos de direitos humanos destacaram diversos casos adicionais de desaparecimento forçado na China. Isso inclui o advogado Yu Wensheng e sua esposa Xu Yan, detidos enquanto se dirigiam a um evento na Delegação Europeia em Beijing, bem como o ativista Peng Lifa e o defensor dos direitos de Guangxi Jia Pin.

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