China registra segundo ano de declínio de sua população e projeta impacto na economia

Redução em 2023 é equivalente à população de Manaus. Crise de natalidade preocupa o governo de Xi Jinping

A população da China registrou seu segundo ano consecutivo de declínio, de acordo com dados oficiais divulgados nesta quarta-feira (17). Apesar de um leve aumento na economia no quarto trimestre de 2023, permitindo ao governo atingir sua meta de crescimento, o ritmo de crescimento foi um dos mais lentos em mais de 30 anos, segundo informações da rede Deutsche Welle (DW).

A queda na natalidade e as consequências da pandemia de coronavírus impulsionaram uma diminuição contínua da população chinesa, prevendo impactos de longo prazo no crescimento econômico. De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas de Beijing (NBS, da sigla em inglês), até o final de 2023, a população nacional atingiu 1.409,67 bilhão, registrando uma redução de 2,08 milhões em relação a 2022. No mesmo ano, foram contabilizados 9,02 milhões de nascimentos, resultando em uma taxa de natalidade de 6,39 por mil.

O Produto Interno Bruto (PIB) registrou um aumento de 5,2% no último trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse crescimento representa uma melhora em relação ao ano anterior, quando o PIB foi de apenas 3%, impactado pelas restrições de saúde e quarentena devido à Covid-19.

Enfermeiras trabalham nos primeiros cuidados de um bebê recém-nascido em centro médico regional na China (Foto: United Nations Development Programme/Flickr)

Apesar da recuperação, os números indicam o crescimento mais fraco desde 1990, excluindo os anos da pandemia. Após o levantamento das restrições contra o coronavírus, Beijing estabeleceu uma meta de crescimento de “cerca de 5%” para 2023. No entanto, os indicadores mostram uma recuperação irregular no país.

Os dados comerciais de dezembro revelaram um leve aumento nas exportações pelo segundo mês consecutivo, acompanhado por um pequeno incremento nas importações.

No Fórum Econômico Mundial de Davos, o primeiro-ministro chinês Li Qiang declarou na terça-feira (16) que a China atingiu suas metas econômicas sem depender de um “estímulo massivo”. Ele enfatizou a solidez dos fundamentos de longo prazo do país e acredita que, apesar de alguns desafios, a tendência econômica positiva persistirá. As autoridades planejam divulgar as metas para este ano em março.

No entanto, 2024 deve apresentar desafios para a China, particularmente por conta de uma prolongada crise imobiliária e desconfiança do consumidor.

Bomba-relógio demográfica

Os números representam um desafio para o presidente chinês, Xi Jinping, enquanto seu governo tenta lidar com o impacto da iminente “bomba-relógio demográfica”, como abordou a revista Newsweek.

Segundo a reportagem, a queda é motivo de apreensão para o regime, liderado pelo Partido Comunista Chinês (PCC). Isso porque o governo avalia a influência abrangente do Estado, que é controlado por um único partido, em nível nacional. Essa diminuição acontece em um momento em que a economia está desacelerando e a força de trabalho do país está envelhecendo. Esses fatores combinados levantam preocupações sobre o poder e a vitalidade do país, indicando desafios significativos em termos de estabilidade econômica e demográfica.

O relatório não abrangeu informações sobre residentes estrangeiros, tampouco sobre as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau. Também não incluiu dados sobre Taiwan, que Beijing busca integrar.

A população chinesa atingiu 1,409 bilhão no final do ano passado, registrando uma queda de 2,08 milhões em relação a 2022, aproximadamente equivalente à população de Manaus, capital do estado do Amazonas.

“Tenham filhos”

Em 2022, uma publicação feita na rede social Weibo, equivalente chinês ao X, antigo Twitter, evidenciou a pressão que Beijing já vinha exercendo para que os casais do país tenham filhos, em meio à queda da natalidade e à perspectiva de redução da população jovem da China.

O post em questão foi feito por jovens recém-casados, e uma conta do governo interagiu com os autores questionando se a mulher já estaria grávida. A publicação recebeu dezenas de milhares de comentários antes de ser excluída pela censura estatal.

Após o episódio, muitas pessoas vieram a público revelar que vivenciaram episódio semelhante ou conhecem alguém que o tenha. Assim, Xi prometeu adotar novas políticas para estimular os jovens casais a terem filhos. Naquele ano, a perspectiva no país é de que os nascimentos caíssem abaixo dos 10 milhões, contra 10,6 milhões de 2021. Isso após uma queda preocupante de 11,5% registrada em 2020.

A situação já havia levado o governo a suspender a política do filho único que vigorou entre 1980 e 2015, época em que o crescimento vertiginoso da população era uma preocupação.

Segundo a ONU, em 2022, a China tinha uma das taxas de fertilidade mais baixas do mundo, que era de 1,2 nascimentos por mulher em média ao longo da vida, de acordo com o relatório Perspectivas da População Mundial de 2022 das Nações Unidas.

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