Premiê das Ilhas Salomão afasta rumores sobre presença militar chinesa

Um acordo bilateral de segurança entre Beijing e a nação insular, assinado no início deste ano, levantou preocupações de segurança em Camberra

Driblando desconfianças que ganharam força nos últimos meses, o primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, disse na sexta-feira (7) que assegurou à Austrália que não irá permitir que a China construa uma base militar em seu território. As informações são da rede Voice of America (VOA).

O país está no olho do furacão de uma disputa diplomática que coloca EUA e os vizinhos australianos e seus aliados no Indo-Pacífico de um lado e Beijing de outro. Tudo por conta do temor em torno da crescente influência chinesa na pequena nação insular. 

As garantias foram dadas durante encontro entre Sogavare e seu homólogo australiano Anthony Albanese em Camberra na quinta-feira (6). A reunião serviu para aliviar o clima de tensão desde que Honiara assinou um acordo bilateral de segurança com a China em março. À época, uma carta de intenções vazou, indicando que Beijing tinha planos de construir uma base naval nas Ilhas Salomão, o que fez soar o alarme australiano.

“Sobre a China, esta é uma questão delicada que discutimos. Assegurei à Austrália quando me encontrei com Anthony Albanese ontem [última quinta] que não permitiremos que isso aconteça”, disse Sogavare.

O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (Foto: WikiCommons)

A declaração contradiz fala anterior do premiê, que havia dito que a China teria permissão para construir cais e aeroportos em seu país, o que poderia ser útil tanto para fins civis quanto militares.

Em 2019, a estatal China Forestry Group Corp. mandou uma delegação para conhecer a ilha de Kolombangara, território no qual os chineses estão de olho e que abriga uma plantação de madeira de lei. As árvores nativas, no entanto, ficaram em segundo plano. O grande interesse demonstrado pela comitiva estava no comprimento do cais e na profundidade da água.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China. Há três anos, o governo local trocou a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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