Após anistia, desnutrição de prisioneiros chama a atenção na Coreia do Norte

Libertação foi parte da comemoração do "Dia da Estrela Brilhante", pelo aniversário de 80 anos do falecido líder Kim Jong-Il

A Coreia do Norte celebrou o aniversário de 80 anos do falecido líder Kim Jong Il na quarta-feira (16) com uma grande reunião ao ar livre em temperaturas abaixo de zero. Como parte da comemoração do “Dia da Estrela Brilhante”, como é conhecida a data, milhares de prisioneiros foram soltos, o que resultou em alegres reuniões familiares, mas também despertou preocupação quanto ao tratamento dado no cárcere. As informações são da rede Radio Free Asia.

Os prisioneiros voltaram para casa de todas as principais prisões do país, inclusive nas cidades de Hamhung, Sariwon e Kaechon, e no condado de Chungsan, na província de Pyongan do Sul, a oeste da capital Pyongyang.

O sistema prisional norte-coreano é famoso pela sua brutalidade. Ex-detentos que conseguiram fugir do país relatam alimentação precária, celas lotadas, tortura, trabalho forçado e abuso sexual.

Estátuas de Kim Il Sung e Kim Jong Il em Pyongyang (Foto: WikiCommons)

Diante dessas condições extremas, ganhar a liberdade de uma prisão local é motivo de comemoração tanto para o preso quanto para os seus familiares. Porém, um morador de uma província no norte do país relatou que muitos dos prisioneiros que tiveram suas penas reduzidas antes do feriado foram submetidos a tamanha carga de maus tratos que estavam com o aspecto de quem está à beira da morte.

“Todo mundo ficou chocado com o estado daqueles libertados pela anistia. Eles estavam gravemente desnutridos e mal conseguiam andar”, disse a fonte, que falou sob condição de anonimato. “Alguns prisioneiros não conseguiam se mover, e suas famílias tiveram que trazê-los para casa em macas”, contou.

De acordo com a fonte, o indulto não foi geral. Dissidentes políticos ou criminosos condenados por delitos de drogas ou crimes violentos, como roubo e assassinato, permaneceram presos. Havia rumores sobre a anistia há vários meses, o que causou ansiedade entre as famílias, que aguardavam pela oportunidade de reencontrar seus parentes detidos.

“Eles esperavam uma redução de pena de cinco anos, mas foi anunciada uma diminuição de três. Então, muitos presos que têm mais de três anos a cumprir terão que completar o restante de suas sentenças antes de serem libertados”, disse a fonte.

A Coreia do Norte impôs à população a responsabilidade pela preparação das celebrações do Dia da Estrela Brilhante. Segundo relato de um morador de Chongjin ouvido pela reportagem, as atividades incluíram palestras sobre a grandeza de Kim Jong Il, incluindo relatos sobre seus esforços e realizações, bem como comentários sobre algumas de suas célebres frases para a nação. Os eventos foram organizados por meio de organizações cívicas, empresas estatais e unidades de vigilância de bairro.

“Os moradores que participam de apresentações de organizações e empresas tiveram que se reunir em um lugar depois do trabalho todos os dias desde o final de janeiro e praticar canto até tarde da noite”, disse a fonte.

Por que isso importa?

Já há motivos “razoáveis” para se para acreditar que crimes contra a humanidade continuam sendo cometidos na Coreia do Norte. O alerta foi dado em um relatório do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Entre os alegados delitos estão extermínio, assassinato, escravidão, tortura, prisão, estupro e outras formas de violência sexual. A lista inclui ainda a perseguição por motivos políticos e o desaparecimento forçado.

Entrevistas com pessoas que fugiram do país apontam que o encarceramento continua sendo uma prática comum sistema prisional norte-coreano, diz o relatório.

“Há relatos consistentes e confiáveis sobre a imposição sistemática de dor física e mental severa ou sofrimento a detidos”, detalha o relatório. Essas práticas são enquadradas como tortura.

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