ONU: Relatório vê possíveis crimes contra a humanidade na Coreia do Norte

Documento relata casos de tortura e trabalho forçado com base em depoimentos de cidadãos que fugiram do país

Este conteúdo foi publicado originalmente na agência ONU News, da Organização das Nações Unidas

Já há motivos “razoáveis” para se para acreditar que crimes contra a humanidade continuam sendo cometidos na Coreia do Norte. O alerta está em um relatório do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas.

O documento, lançado nesta terça (2), marca sete anos do lançamento de uma investigação histórica sobre os direitos humanos no país.

A análise une informações sobre possíveis crimes contra a humanidade identificados pela Comissão de Inquérito sobre a Coreia do Norte em 2014.

ONU: Relatório aponta possíveis crimes à  humanidade na Coreia do Norte
Rua de Pyongyang, capital da Coreia do Norte (Foto: Unicef/Jeremy Horner)

Entre os alegados delitos estão extermínio, assassinato, escravidão, tortura, prisão, estupro e outras formas de violência sexual. A lista inclui ainda a perseguição por motivos políticos e o desaparecimento forçado.

Entrevistas com pessoas que fugiram do país apontam que o encarceramento continua sendo uma prática comum sistema prisional norte-coreano, diz o relatório.

“Há relatos consistentes e confiáveis sobre a imposição sistemática de dor física e mental severa ou sofrimento a detidos”, detalha o relatório. Essas práticas são enquadradas como tortura.

Abusos 

O tratamento nesses locais inclui espancamentos, uso prolongado de posições de estresse, abuso psicológico, trabalho forçado, negação de cuidados médicos e produtos de higiene e saneamento e fome.

“Combinados, os atos criam uma atmosfera de severo sofrimento físico e mental na detenção, exacerbado por condições de vida extremamente más”, diz o documento.

A principal preocupação do Escritório envolve os relatos de trabalho forçado dentro do sistema prisional, o que pode representar o crime de escravidão.

A análise aponta a falta de progresso na necessidade urgente de estabelecer a verdade e garantir a responsabilização em casos de sequestros e desaparecimentos forçados. Nesses casos estariam coreanos étnicos, cidadãos japoneses e outros, desde a Guerra da Coreia até o presente.  

ONU: Relatório aponta possíveis crimes à  humanidade na Coreia do Norte
A capital da Coreia do Norte, Pyongyang, em agosto de 2011 (Foto: Flickr/Dan Sloan)

Península Coreana 

As vítimas dessas violações e suas famílias estão atingindo idades avançadas, com tempo cada vez menor para que tenham acesso à justiça e a verdade. 

Para o escritório, uma paz duradoura na Península Coreana só poderá ocorrer se essas violações terminarem. É essencial que o país faça cumprir os direitos das vítimas à justiça, reparações e garantias.

Para o Escritório, a prioridade continua sendo a investigação e o julgamento adequados dos alegados crimes internacionais cometidos, seja através do encaminhamento da situação ao Tribunal Penal Internacional, um tribunal ad hoc ou outro mecanismo semelhante.

Comentando o documento, a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, apelou a um novo esforço para fazer justiça às vítimas de graves violações dos direitos humanos na Coreia do Norte. 

“Sete anos após o histórico relatório da Comissão de Inquérito, não só prevalece a impunidade, mas continuamos vendo violações e crimes contra a humanidade”, disse.

Além de priorizar a justiça, o Escritório exorta a comunidade internacional a tomar medidas imediatas para evitar que se cometa novamente graves violações dos direitos humanos. 

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