Problemas aumentam na China antes da tentativa de Xi Jinping de permanecer no poder

Xi Jinping tem sido pressionado pela desaceleração econômica da China, principalmente por conta dos rígidos bloqueios sanitários contra a Covid-19

Dificuldades diversas, entre elas a pandemia de Covid-19, podem atrapalhar os planos do presidente Xi Jinping para chegar ao terceiro mandato na China. O cenário atual difere daquele de fevereiro, época em ocorreram os Jogos Olímpicos de Inverno de Beijing, quando o mandatário chinês vivia momento melhor junto à opinião pública. Os aplausos no estádio Ninho de Pássaro, a promessa de crescimento econômico e o controle do coronavírus indicavam um 2022 favorável ao líder. Três meses e uma piora na crise sanitária bastaram para o jogo virar, avalia artigo do jornal LA Times.

Uma nova onda de infecções, especialmente em Xangai, com seus 25 milhões de confinados, de onde surgiram relatos de pessoas que morreram porque não foram autorizadas a sair de casa sequer para realizar tratamento médico de doenças crônicas que enfrentavam, estremeceu a política de Covid Zero chinesa.

O lockdown severo teria deixado cidadãos sem comida em casa, prejudicando a produção e os gastos do consumidor. Tudo isso serviu para promover uma desaceleração econômica preocupante, que resultou em perda de confiança de empresas estrangeiras na nação asiática. A seis meses de o Partido Comunista Chinês (PCC) aprovar um inédito terceiro mandato, talvez o caminho de Xi para ser o governante mais poderoso do país desde Mao Tsé-Tung não esteja tão aberto quanto já pareceu.

Presidente da China, Xi Jinping, em viagem a Londres, em outubro de 2015 (Foto: Flickr/Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido)

O primeiro-ministro Li Keqiang tem pressionado Xi a reduzir algumas medidas que afastaram o país do capitalismo de estilo ocidental e contribuíram para a desaceleração econômica da China, segundo reportagem do The Wall Street Journal. Além disso, Li, afastado por anos pelo presidente chinês, também está trabalhando nos bastidores para emplacar um sucessor que faça frente ao autoritário presidente chinês.

O Congresso Nacional do Povo irá decidir em novembro pela permanência do líder ou se um novo mandatário será alçado ao poder. Também serão definidos os nomes para o Politburo (comitê executivo dos partidos comunistas), para o Comitê Militar Central e para o Comitê Permanente da Assembleia Nacional, três dos principais órgãos resolutivos na estrutura burocrática de Beijing.

O alinhamento da China com a Rússia – que depende dos chineses para negociar seu petróleo – nas questões que envolvem o conflito na Ucrânia também influencia nas suas relações que já não são melhores com o Ocidente há um bom tempo. Colocar na balança ambições internacionais de um lado e crescentes preocupações domésticas do outro está intrincando a narrativa de Xi.

Na opinião de Alex Payette, presidente-executivo do Cercius Group, uma consultoria de Montreal especializada em política chinesa, antes desses acontecimentos, o PCC vislumbrava um ano mais “tranquilo”. “É um mundo completamente diferente agora. Xi Jinping precisa ser muito cuidadoso em como ele lida com tudo isso”, avalia.

Erros podem custar o poder

Com um estilo mais burocrata, ao contrário do ímpeto revolucionário de Mao, o regime de Xi impõe controle do poder com a mesma firmeza do fundador da República Popular da China. Sua visão socialista anseia por um exército forte, uma economia sólida e uma assertividade em questões globais.

O artigo avalia como “improvável que qualquer crise atrapalhe suas ambições para um terceiro mandato”. Porém, os erros poderão ter consequências políticas, estabelecendo quanto de influência ele terá dentro do PCC pelos próximos cinco anos.

“Seu poder é de tal magnitude sobre o sistema político burocrático, que não é uma questão de ele assumir um terceiro mandato. É uma questão de quão machucada estará sua agenda naquela época”, disse Jude Blanchette, que ocupa a Cátedra Freeman em Estudos da China no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

Fracassos nas principais prioridades, em especial o enfrentamento da Covid-19 pelo governo, podem resultar em dúvidas sobre a liderança de Xi, disseram analistas.

“Ele ainda estaria no controle do sistema, mas não seria capaz de aumentar sua capacidade de impor essas agendas que ele tem”, disse Neil Thomas, analista do Eurasia Group, especializado na política chinesa. “Isso não seria uma vitória para Xi”.

O fator Rússia

É uma incógnita o conhecimento de Xi Jinping sobre os planos de Vladimir Putin para avançar com suas tropas em território ucraniano. Mas a aliança entre as nações, definidas como “sem limites“, fez crescer o escrutínio sobre a disposição de Beijing de apoiar a Rússia política e economicamente, levantando preocupações sobre uma reação global.

Não é do interesse de Xi perder um aliado e colega de autocracia como o chefe do Kremlin. Porém, o isolamento de Putin pelo Ocidente pode ser um recado a Xi de como seria tratado no caso de uma invasão a Taiwan, operação que é tida como velho desejo seu: colocar o território semiautônomo sob seu comando.

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