China coordenou exercícios militares em torno de Taiwan no fim de semana

Paralelo aos treinamentos, Japão registrou a presença de caças J-15 em seu espaço aéreo sobre o Mar da China Oriental

As forças chinesas tiveram exercícios de tiro próximo a Taiwan durante o fim de semana, informou o Exército de Libertação Popular (ELP) em seu site nesta segunda-feira (9). Paralelamente aos treinamentos, o Japão registrou a presença de caças de combate de Beijing em seu espaço aéreo sobre o Mar da China Oriental. As informações são da rede Radio Free Asia.

De acordo com o comunicado do ELP, “as forças navais, aéreas e de mísseis convencionais realizaram exercícios nos mares e no espaço aéreo a leste e sudoeste da ilha de Taiwan de 6 a 8 de maio, em uma tentativa de testar e melhorar a capacidade de operações conjuntas de vários serviços e armas”. Mais detalhes sobre a movimentação militar não foram divulgados.

Pelo Twitter, o Ministério da Defesa do Japão (JMOD) confirmou que, no mesmo período, caças da Força Aérea japonesa “se esforçaram para lidar com uma suspeita de intrusão no espaço aéreo do Japão sobre o Mar da China Oriental e o Oceano Pacífico”.

Os modernos caças J-16D são invisíveis ao radar e foram projetados para atuar em condições idênticas às encontradas em Taiwan (Foto: Global Times/China)

Antes disso, na semana passada, o órgão governamental já havia colocado forças em alerta após uma flotilha da Marinha do ELP composta de oito navios ser vista entrando no Mar da China Oriental através do Estreito de Miyako, liderada pelo porta-aviões Liaoning.

Segundo o JMOD, os navios chineses estavam realizando exercícios de tiro ao vivo com caças e helicópteros baseados em porta-aviões. Para monitorar as atividades de perto, o Ministério da Defesa japonês enviou ao local o porta-aviões leve Izumo.

Analistas observam que a presença do Liaoning e de aeronaves perto do leste de Taiwan representam um “desafio direto” para a ilha. Na visão do especialista militar taiwanês Qi Leyi, os exercícios de combate do ELP tendem a aumentar no futuro.

“O mar e o espaço aéreo a leste e sudoeste de Taiwan continuarão sendo o foco de futuras operações contra a ilha”, disse Qi, acrescentando que “além das forças navais e aéreas, a força de mísseis convencionais também será utilizada para atacar importantes alvos políticos e militares”.

Diante da ameaça iminente no leste, a imprensa do território semiautônomo noticiou que o ministério implantou mísseis Sky Bow III, que podem alcançar 200 quilômetros. Caças F-16 já estão à disposição das forças locais na base na cidade de Taitung, bem como vários mísseis Hsiung Feng III e Harpoon serão movidos para a região.

Demonstração de poder

Segundo Shen Ming-Shih, vice-diretor executivo interino do Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa de Segurança de Taiwan, um think-tank do governo, além de exibir o poderio militar do porta-aviões, os exercícios chineses em Taiwan também têm como objetivo “demonstrar as capacidades de combate do ELP”.

“É provável que um ou dois submarinos chineses também tenham realizado exercícios coordenados debaixo d’água”, disse Shen.

No entanto, na opinião da autoridade em segurança nacional, a ilha possui um aliado que preocupa Beijing. “Pode tentar intimidar Taiwan, mas diante da superioridade naval e aérea dos EUA, a China ainda tem grandes preocupações”, disse ele.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação entre Taipé e Washington, desde 2020 a China endureceu a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.

embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho de 2021. O documento taiwanês pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala, justamente por se tratar de uma ilha. Já segundo o Pentágono, isso “provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os relatórios reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

Em artigo publicado em novembro, Michael Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de Beijing”.

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