Reino Unido acusa a China de recrutar cidadãos britânicos para atuarem como espiões

Governo diz que Beijing 'caça cidadãos britânicos e aliados em posições-chave e com conhecimento e experiência sensíveis'

Proeminentes cidadãos britânico tornaram-se alvo de uma agressiva campanha do governo da China para recrutar espiões em posições cruciais da sociedade, em busca de segredos de Estado e industriais que sirvam aos interesses de Beijing. A denúncia foi feita nesta semana pelo governo do Reino Unido, segundo informa a agência Reuters.

O combate à ação dos serviços de inteligência da China é uma preocupação crescente do governo do Reino Unido, cujos parlamentares divulgaram um relatório em julho sobre a questão. O documento conclui que a abordagem de Londres à ameaça chinesa é inadequada frente à atuação cada vez mais sofisticada e agressiva da espionagem de Beijing.

No relatório, o Comité de Inteligência e Segurança afirma que a inteligência chinesa penetrou com sucesso em todos os setores da economia britânica. O primeiro-ministro Rishi Sunak se manifestou nesta semana sobre o documento e diz que aceita a avaliação dos autores, dizendo que o governo “poderia fazer melhor” para enfrentar o problema.

O premiê britânico Rishi Sunak: atento à ameaça chinesa (Foto: Downing Street/Andrew Parsons)

“Os esquemas de recrutamento chineses tentaram caçar cidadãos britânicos e aliados em posições-chave e com conhecimento e experiência sensíveis”, admitiu o governo na quinta-feira (14), acrescentando que o MI5, serviço de inteligência doméstica britânico, realiza atualmente sete vezes mais investigações relacionadas à China que em 2018.

A espionagem chinesa no Reino Unido

Em novembro de 2021, Richard Moore, chefe do Serviço Secreto de Inteligência britânico, o popular MI6, colocou a China como uma das quatro prioridades de segurança do Reino Unido, ao lado de RússiaIrã e do terrorismo islâmico. Ele se justificou com base no apoio chinês a “ações ousadas e decisivas”, espionando o Reino Unido e seus aliados e atuando para distorcer o discurso público.

À época, a embaixada chinesa em Londres emitiu um comunicado contestando a denúncia. “A China não tem necessidade nem interesse em coletar informações sobre a localização de veículos britânicos”, disse um porta-voz do órgão. “Somos firmemente contra os movimentos de algumas pessoas para estender deliberadamente o conceito de segurança nacional para desgastar as empresas chinesas”.

Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, fez avaliação semelhante à do colega em novembro do ano passado. Segundo ele, Beijing adota uma estratégia diferente da habitual e prefere “jogar o jogo longo”, manipulando a opinião pública através da mídias sociais e cooptando pessoas de interesse. Em muitos casos, os alvos são jovens políticos com pouca influência, mas com potencial para chegar ao parlamento no futuro.

No início de 2022, Christine Ching Kui Lee, uma advogada baseada em Londres, foi acusada de “estabelecer ligações” para o Partido Comunista Chinês (PCC) com parlamentares britânicos. Ela teria feito doações na casa dos US$ 275 mil a políticos, entre eles o deputado trabalhista Barry Gardiner, além de ter distribuído centenas de milhares de dólares a integrantes do partido.

“Se eles estão preparados para investir esta quantidade de paciência, esta quantidade de dinheiro, esta quantidade de esforço em cultivar volumes muito grandes de ativos potenciais em todo o nosso sistema, isso me parece um grande e duradouro desafio”, disse McCallum.

Mais recentemente, em setembro desde ano, um pesquisador do Parlamento do Reino Unido foi preso sob a Lei de Segredos Oficiais devido a suspeitas de espionagem. O indivíduo, cuja identidade não foi revelada, tinha acesso a vários deputados conservadores e teria usado isso para tentar obter vantagens para Beijing.

O jornal Times revelou, ainda, o caso de dois candidatos a legisladores pelo Partido Conservador que seriam espiões a serviço da China. Os episódios teriam ocorrido em 2021 e 2022, e o MI5 alertou a sigla, que teria agido a tempo para impedir que ambos se candidatassem.

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