Senadora filipina usa o TikTok para alertar sobre um suposto ataque da China

Imee Marcos afirmou, sem evidências, que Beijing planejava disparar mísseis hipersônicos contra vários locais das Filipinas

Na terça-feira (2), uma influente senadora filipina provocou alvoroço nas redes sociais ao alegar ter informações sobre um plano chinês para lançar mísseis hipersônicos contra as Filipinas, apesar das autoridades de segurança nacional afirmarem não estar cientes de qualquer ameaça. As informações são da agência Reuters.

Imee Marcos, irmã do presidente Ferdinand Marcos Jr. e presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, fez a declaração em um vídeo breve que já ultrapassou 900 mil visualizações no TikTok e mais de 100 mil no Facebook.

“Estou realmente assustada porque, enquanto as tensões aumentam no Mar das Filipinas Ocidental, vi relatos sobre os planos da China de usar mísseis hipersônicos”, disse ela no vídeo.

Imee Marcos é irmã do presidente Ferdinand Marcos Jr (Foto: WikiCommons)

Ela acrescentou que 25 áreas nas Filipinas foram identificadas nos planos que viu, incluindo a ilha de Batanes e Subic, em Zambales, onde os novos sistemas de mísseis Brahmos do país foram implantados, e a região de Ilocos, local dos exercícios militares anuais de Balikatan entre soldados norte-americanos e filipinos.

A senadora também manifestou preocupação de que os Estados Unidos não seriam capazes de impedir tais ataques.

“Outros países possuem algo chamado Iron Dome, que bloqueia a entrada de mísseis. Mas quando se trata de mísseis hipersônicos, eles podem entrar facilmente. Tudo seria destruído”, disse ela.

Embora não tenha apresentado evidências para suas alegações, Imee argumentou que a China está mirando nas Filipinas devido ao fortalecimento dos laços militares do país com os EUA sob a administração de seu irmão.

A senadora se opõe a algumas políticas de seu irmão. Em fevereiro do ano passado, Marcos Jr. concedeu aos EUA acesso a nove instalações militares nas Filipinas sob o Acordo de Cooperação de Defesa Aprimorada (EDCA, da sigla em inglês) entre os dois países, visando fortalecer as capacidades defensivas do país e sua capacidade de responder a desastres naturais.

O conselho de segurança nacional das Filipinas disse que irá buscar mais informações sobre suas alegações, com o porta-voz Jonathan Malaya afirmando que “não tem conhecimento das ameaças mencionadas por ela”.

De acordo com Malaya, Manila e Beijing até “reafirmaram seu compromisso de reduzir as tensões no Mar Ocidental das Filipinas” durante uma reunião bilateral de consulta realizada na terça-feira na capital filipina, coincidindo com a publicação do vídeo pela senadora.

Em resposta às alegações sobre mísseis hipersônicos, o Ministério das Relações Exteriores da China emitiu uma declaração na quinta-feira, enfatizando que a China está “comprometida com o desenvolvimento pacífico e uma política defensiva”, e negou ter conhecimento da origem das informações da senadora.

Em março do ano passado, a Embaixada da China nas Filipinas disse, em comunicado, que conceder a Washington o acesso a outras quatro bases militares, além das cinco já ocupadas no país do Sudeste Asiático, resultará em um “conflito geopolítico”.

Por que isso importa?

Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. VietnãMalásiaBrunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia.

A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.

No caso específico da relação entre Beijing e Manila, um momento particularmente tenso ocorreu em março de 2022, quando um navio da guarda costeira chinesa realizou “manobras de curta distância” que quase resultaram em colisão com um navio filipino.

Na ocasião, Manila alegou que o navio chinês desrespeitou a conduta náutica quando navegava próximo à ilha Scarborough Shoal, que fica na ZEE filipina, 124 milhas náuticas a noroeste do continente, e é alvo de disputa internacional.

Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Wang Wenbin disse à época que o país dele tem direitos soberanos sobre Scarborough Shoal. Entretanto, uma arbitragem internacional em Haia, em 2016, invalidou as reivindicações de Beijing sobre a hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.

Beijing, que não reconhece a decisão, passou a construir ilhas artificiais no arquipélago, a fim de manter presença permanente por lá. Ao menos três dessas ilhas artificiais estão totalmente militarizadas, conforme apontam imagens de satélite.

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