Vinte e três pessoas foram formalmente acusadas pela Justiça de Taiwan de compor uma quadrilha que realizava atos de espionagem em favor da China. Entre os suspeitos estão oito oficiais militares da ilha, que luta para ter sua independência em relação a Beijing reconhecida. As informações são do jornal Taiwan News.
Dois irmãos taiwaneses de sobrenome Hsu foram os criadores da rede de espionagem em 2021. Eles recrutaram pessoas preferencialmente endividadas e prometeram somas relevantes em troca dos serviços como espiões. Ao longo de cinco anos, o governo chinês teria direcionado ao grupo cerca de 5 milhões de novos dólares taiwaneses (R$ 850 mil).
Entre os militares acusados estão integrantes do Exército, da Marinha, da Força Aérea e da Guarda Costeira da ilha. Os encontros com os agentes chineses teriam ocorrido em Macau, igualmente território sobre o controle de Beijing, e na Zona Econômica Especial de Zhuhai, na China.
Apesar do envolvimento dos militares, a Justiça de Taiwan disse que são todos oficiais de baixa patente com acesso a informações limitadas, incapazes de fornecer a Beijing alguma vantagem relevante.
Além de levar o caso aos tribunais, o governo taiwanês iniciou uma campanha voltada a educar oficiais a respeito dos riscos da espionagem chinesa e da necessidade de proteger documentos confidenciais. O curso contém ainda um módulo de educação financeira para reduzir o risco de que militares endividados cedam à tentação de vender segredos à China.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.