A tensão entre China e Taiwan, com a possibilidade de uma ação militar para anexação formal da ilha por Beijing, levou o governo taiwanês a intensificar os preparativos dos serviços públicos e infraestrutura para operarem durante um eventual período de conflito. As informações são do jornal Financial Times.
Autoridades governamentais têm discutido propostas de reforma que abrangem o aumento da capacidade da defesa civil, o reforço dos estoques de alimentos e energia, a ampliação dos recursos médicos de emergência, além do fortalecimento da infraestrutura de comunicação.
Os planos seriam apresentados para aprovação ao presidente Lai Ching-te nesta quinta-feira (11). Desde que assumiu o cargo em maio, ele tem priorizado o aprimoramento das defesas civis.
Um alto funcionário do governo afirmou que, “resumidamente, em caso de um conflito em Taiwan, nossas Forças Armadas terão que estar preparadas para o combate, mas nosso objetivo é garantir que a sociedade possa sobreviver e operar da maneira mais normal possível”.
Os planos de defesa civil da ilha continuam o trabalho da ex-presidente Tsai Ing-wen, que, após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, intensificou as reformas, incluindo o retorno do recrutamento obrigatório de um ano para homens. No entanto, especialistas alertam que Taiwan ainda está despreparada para a guerra.
Os planos
As autoridades locais planejam usar salões escolares como abrigos para moradores desabrigados em caso de ataque, aumentar a capacidade de moagem de arroz, ampliar os estoques de alimentos básicos e perfurar mais poços para garantir o abastecimento de água. Também estão considerando um sistema de racionamento de alimentos, usando as lojas de conveniência 24 horas para distribuir suprimentos. Além disso, querem preparar os hospitais para um grande número de vítimas e construir infraestrutura de apoio caso os cabos submarinos de comunicação sejam cortados.
Outra ação são estudos de viabilidade para serviços de internet via satélites em órbita baixa, semelhantes ao Starlink de Elon Musk, que ajudou a manter a Ucrânia conectada.
Em tempos de paz, o Ministério do Interior de Taiwan é responsável pela resposta a desastres e pela defesa civil, mas essa responsabilidade é transferida para o Ministério da Defesa em tempos de guerra por ordem do presidente. As autoridades estão revisando os mecanismos de gestão de desastres para estabelecer uma cadeia de comando clara e um sistema eficaz em tempos de paz e guerra.
Neste mês, Taiwan realizará um exercício de defesa civil que incluirá, pela primeira vez, mensagens de texto alertando os moradores sobre a chegada de mísseis e instruindo-os a procurar abrigo imediatamente.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.