Taiwan terá regras mais rígidas sobre dispositivos de fabricação chinesa

Medidas visam a proibir uso de software e hardware de fabricados por agências governamentais, aumentando a cibersegurança

Após seguidos ataques hacker, o Yuan Executivo de Taiwan, equivalente ao Poder Executivo no território semiautônomo, está elaborando medidas para tornar mais rígidas as regras e os protocolos que restringem o uso de hardware e software de telecomunicações fabricados na China por companhias estatais. A justificativa é a de que os dispositivos “ameaçam a segurança nacional”, disseram fontes. As informações são do jornal Taipei Times.

As medidas, também destinadas a missões taiwanesas em países onde o uso de produtos de fabricação chinesa é a única opção, exigiriam que as fabricantes passassem por duas verificações de segurança: uma pelo chefe da seção de segurança da informação da agência governamental e outra por uma agência de nível superior.

“Eles teriam então que apresentar um pedido de aprovação do Ministério de Assuntos Digitais, informando suas razões e condições para usar esses produtos, com as informações inseridas em um banco de dados sobre programas especiais de compras governamentais para monitoramento”, disseram as fontes.

Uma loja da cadeia de supermercados 7-Eleven em Taiwan foi invadida em agosto por hackers que postaram uma mensagem nos monitores: “Belicista Pelosi, saia de Taiwan” (Foto: Twitter/Reprodução)

Tais medidas de proteção têm como objetivo corrigir vulnerabilidades, de modo a evitar vazamentos e ataques cibernéticos chineses.

Um exemplo da suscetibilidade da ilha em relação a ciberataques chineses e que motivou o governo local a tomar medidas mais duras ocorreu durante a conturbada visita a Taiwan da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Na ocasião, em uma estação ferroviária na cidade portuária de Kaohsiung, na parte sul, o sistema foi hackeado, e os monitores que informam o público passaram a exibir uma mensagem chamando Pelosi de “bruxa velha”. O mesmo ocorreu em um escritório do governo no condado de Natou.

O Ministério de Assuntos Digitais de Taiwan publicou uma prévia das emendas propostas, que agora irão para análise do Comitê de Assuntos Jurídicos. Só depois desse processo é que o Yuan Executivo poderá sancionar uma ordem administrativa para a execução da medida de cibersegurança.

Os principais artigos incluem proibição explícita do uso de produtos de telecomunicações fabricados na China, incluindo câmeras de vigilância, por agências governamentais e seus sites de uso público contratados, e seriam incorporados ao acordo comercial para empresas que alugam os sites para uso.

Ataques frequentes

Além da desinformação, foram registrados episódios de ataques hackers contra sistemas de entidades importantes de Taiwan, como a Universidade Nacional e o Museu do Palácio Nacional. Até grandes redes privadas de comércio, como as lojas de conveniência 7-Eleven, foram invadidas, com mensagens contrárias a Pelosi e a Taiwan exibidas em seus equipamentos de sinalização digital.

Uma ação de hackers não identificados chegou a tirar do ar o site oficial do Gabinete da Presidente da ilha, Tsai Ing-wen. O sistema foi restabelecido depois de 20 minutos e não foi possível identificar o IP dos agressores cibernéticos, impedindo assim que a origem dos ataques fosse determinada.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeiro membro da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serve como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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