Taleban do Paquistão é suspeito de detonar explosivos em escolas femininas

A ativista Malala Yousafzai já foi alvo da violência do grupo radical quando fazia campanha pela educação das meninas em 2012

Explosões atingiram duas escolas femininas do Paquistão nos últimos dias, segundo reportaram as autoridades locais na segunda-feira (22). As bombas foram detonada durante a noite, quando os locais estavam vazios, portanto não há vítimas registradas. As informações são do site The Defense Post.

Embora nenhum grupo tenha assumido oficialmente a autoria dos atentados, as suspeitas recaem sobre o  Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão. A organização extremista mais ativa em território paquistanês já foi responsável por ações contra o ensino às mulheres, tendo inclusive atacado a ativista pró-educação Malala Yousafzai em 2012.

Atualmente, o principal alvo do TTP têm sido as forças do governo paquistanês, mas a possibilidade de que esteja envolvido na ação contra os estabelecimentos de ensino está sendo igualmente investigada.

As explosões foram registradas durante a noite de domingo (21) na região do Waziristão do Norte, perto da fronteira com o Afeganistão e um tradicional reduto do Taleban paquistanês.

“Os militantes plantaram dispositivos explosivos improvisados ​​nas duas escolas secundárias do governo para meninas, que explodiram tarde da noite”, disse Rehan Gul Khattak, um alto funcionário público local. Ainda segundo ele, três salas de aula foram destruídas, e a ação “certamente” foi realizada por militantes extremistas islâmicos.

Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), o popular Taleban do Paquistão (Foto: reprodução/Twitter)
Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveita sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para conduzir negociações que incluem ao TTP, entra elas dois acordos de cessar-fogo.

O primeiro pacto ocorreu no ano passado, mas foi interrompido no dia 10 de dezembro, exatamente um mês após ter sido iniciado. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que aquele cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial. Mais recentemente, em junho de 2022, um novo cessar-fogo foi acordado, e agora foi mais uma vez rompido.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban afegão sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.

Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.

O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.

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