‘The Kerala Story’: filme sobre o Estado Islâmico é banido em partes da Índia

Filme narra a jornada de três mulheres do estado de Kerala que são "convertidas" ao terrorismo. Críticos chamaram o longa de "propaganda"

Um filme que mostra a história de três mulheres que se juntam ao grupo Estado Islâmico (EI) foi banido no estado de Bengala Ocidental, no leste da Índia. ‘The Kerala Story’ (sem título em português), lançado no último dia 5, foi proibido pelas autoridades locais sob a justificativa de que possui potencial para incitar a violência. As informações são da rede Euronews.

Em respostas às críticas – e a pedidos indignados de “enforcamento em público” – o produtor do longa, Vipul Amrutlal Shah, afirmou recentemente que ‘The Kerala Story’ “não é contra os muçulmanos ou o Islã, mas sim contra terroristas”. Ele ainda acrescentou que o trabalho é baseado em anos de pesquisa, contrariando o que críticos classificaram como “propaganda”.

“Nada do que dissermos ficará sem provas”, disse Shah, observando que o diretor e co-roteirista Sudipto Sen conduziu quatro anos de pesquisa para contar a história.

Cena de ‘The Kerala Story’ (Foto: Captura de tela/YouTube)

O filme narra a história de quatro mulheres do estado de Kerala que se converteram ao Islã e se juntaram ao EI. O trailer já havia causado alvoroço ao ser divulgado no ano passado, quando fez a controversa afirmação de que 32 mil meninas foram “convertidas” em terroristas islâmicos.

Embora o filme tenha um roteiro classificado como “baseado em uma história real” e seus produtores afirmem que ele foi construído em cima de vasto período de pesquisa, ‘The Kerala Story‘ foi criticado por sua falta de evidências, principalmente estatísticas.

Diante das críticas e desafios legais, os produtores atualizaram a descrição do longa para “a compilação das histórias verdadeiras de três jovens de diferentes partes de Kerala”.

O caso também teve repercussão política no estado de Kerala, liderado pelo Partido Comunista Marxista Indiano (CPI-M). Políticos cobraram ações contra os idealizadores do filme. John Brittas, parlamentar pelo CPI-M, escreveu uma carta ao ministro do Interior, Amit Shah, pedindo que tomasse “medidas severas” contra os cineastas. Já o líder da oposição na Assembleia de Kerala, VD Satheesan, do partido Congresso Nacional Indiano, afirmou que o filme foi feito para “manchar a imagem de Kerala”. 

O governo de Kerala chamou o filme de uma tentativa deliberada de “espalhar o ódio” e polarizar o estado comunitariamente, mas não proibiu as exibições. No estado vizinho de Tamil Nadu, uma associação de proprietários de salas de cinema disse que pararia de exibir o filme, antecipando protestos.

Enquanto o governo de Bengala Ocidental justifica a censura para “manter a paz” e “prevenir quaisquer incidentes de violência ou crimes de ódio”, alguns políticos do ultranacionalista Partido Bharatiya Janata (BJP), sigla do do primeiro-ministro indiano Narendra Modi, criticaram a medida. O BJP está no poder nacionalmente, mas está na oposição em Bengala Ocidental, que é governada pelo Congresso de Trinamool.

Em entrevista repercutida pelo jornal Hindustan Times, Shah afirmou que o filme “não é contra uma religião ou casta em particular”. 

“Tenho certeza que, com o tempo, conforme as temperaturas baixarem, as pessoas entenderão que este filme não é contra ninguém, é contra o terrorismo. E estamos apelando a todos aqueles que são contra o terrorismo, para se juntarem a nós em nossa luta”.

Mais censura

Em fevereiro, autoridades fiscais indianas revistaram os escritórios da BBC em Nova Délhi e Mumbai. A investigação ocorreu semanas depois de o governo da Índia banir um documentário produzido pelo canal que descortinou os atos do primeiro-ministro indiano Narendra Modi durante um massacre ocorrido em 2002 no Estado de Gujarat.

A censura aplicada à obra ‘The Modi Question’ (‘Índia: A Questão Modi’, no título em português), lançada em janeiro, foi um movimento coordenado pelo governo da Índia e levou autoridades locais a cobrarem do Twitter e do YouTube uma ação de censura contra o documentário, que definiram como uma “peça de propaganda”.

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