Escritórios da BBC na Índia são revistados por autoridades fiscais locais

Buscas ocorrem menos de um mês após a estreia de um documentário da emissora britânica que associa o premiê indiano a um massacre em 2002

Autoridades fiscais indianas revistaram os escritórios da BBC em Nova Délhi e Mumbai nesta terça-feira (14), disse a emissora britânica. A investigação ocorre semanas depois de o governo da Índia banir um documentário produzido pelo canal que descortinou os atos do primeiro-ministro indiano Narendra Modi durante um massacre ocorrido em 2002 no Estado de Gujarat.

A censura aplicada à obra ‘The Modi Question’ (‘Índia: A Questão Modi’, no título em português), lançada em janeiro, foi um movimento coordenado pelo governo da Índia e levou autoridades locais a cobrarem do Twitter e do YouTube uma ação de censura contra o documentário, que definiram como uma “peça de propaganda”.

Durante as buscas desta terça, segundo a BBC, alguns funcionários foram solicitados a permanecer no escritório, enquanto muitos saíram. “Nossa produção e jornalismo continuam normais e estamos comprometidos em servir nosso público na Índia”, afirmou a emissora em comunicado.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi (Foto: Kremlin)

A rede acrescentou que estava “cooperando totalmente” com as autoridades. “Esperamos resolver esta situação o mais rápido possível”.

Embora ‘Índia: A Questão Modi’ tenha sido transmitido somente para o público britânico, Nova Délhi fez esforços para bloquear o compartilhamento da obra nas mídias sociais. Kanchan Gupta, ministro indiano de Informação e Radiodifusão, fez duras críticas ao documentário, ao qual se referiu como “propaganda hostil e lixo anti-Índia disfarçado de ‘documentário’”. 

Gupta também anunciou que postagens que compartilhavam o documentário no Twitter e no YouTube haviam sido “bloqueadas pelas leis e regras soberanas da Índia”.

No mês passado, a polícia da capital levou sob custódia estudantes que se reuniram para assistir ao filme, que retrata o papel de Modi enquanto ministro-chefe Gujarat em 2022, quando distúrbios entre a maioria hindu e a minoria muçulmana resultaram na morte de mais de mil pessoas, sobretudo entre o grupo minoritário. 

Modi e muitos de seus aliados são apontados cúmplices nos atos de violência. Apesar disso, o político, identificado com uma agenda hindu-nacionalista, nunca foi acusado de conexão com a agitação social e não expressou “nenhuma culpa” sobre como ele lidou com a violência que resultou dela.

Medo de críticas

O secretário-geral do partido de oposição do Congresso, KC Venugopal, disse que a busca desta terça “cheira a desespero e mostra que o governo Modi tem medo de críticas”. Ele ainda condenou a atitude, a qual definiu como “antidemocrática e ditatorial”.

Já o Partido Bharatiya Janata (BJP), de Modi, disse que as instituições indianas trabalham de forma independente e que o departamento tributário está “dentro da lei ao examinar a conformidade fiscal”.

“A Índia é uma democracia vibrante onde ninguém está acima da lei”, disse o porta-voz do BJP, Gopal Krishna Agarwal.

Também representante do BJP, Gaurav Bhatia definiu a BBC como a “organização mais corrupta do mundo”. “A Índia é um país que dá uma oportunidade a todas as organizações”, disse ele, “desde que você não vomite veneno”.

Após a notícia, as pesquisas online com as palavras-chave “documentário da Índia Narendra Modi” aumentaram globalmente à medida que as pessoas procuravam baixá-lo.

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