Um ano após inundações, quatro milhões de crianças no Paquistão seguem sem água potável

Falta de verba dificulta recuperação do país, e preocupação aumenta conforme se aproxima a nova temporada de monções

Um ano após enchentes devastadoras terem arrasado regiões do Paquistão, o Unicef, fundo das Nações Unidas para a infância, alertou nesta sexta-feira (25) que cerca de quatro milhões de crianças no país ainda não têm acesso a água potável. As informações são da rede CNN.

Segundo um comunicado divulgado pelo órgão, aproximadamente oito milhões de pessoas, metade delas crianças, continuam residindo em áreas afetadas pelas cheias, onde precisam de assistência humanitária e de acesso a serviços essenciais,

Abdullah Fadil, representante do Unicef no Paquistão, declarou no comunicado que as crianças vulneráveis que vivem nas zonas atingidas pelas enchentes “enfrentaram um ano terrível”, com perda de entes queridos, casas e escolas.

Uma rua submersa perto de Nowshera, província de Kyhber-Pakhtunkhwa (Foto: IRIN Photos/Flickr)

Com a temporada de monções se aproximando, o temor de outro desastre climático aumenta. Embora haja esforços contínuos de recuperação, muitos ainda não receberam ajuda, deixando as crianças do Paquistão em risco de serem negligenciadas.

No ano passado, inundações resultantes das chuvas intensas das monções e do derretimento dos glaciares nas áreas montanhosas do norte do Paquistão tiveram um impacto devastador. Essas enchentes causaram a perda de aproximadamente 1,6 mil vidas, mais de um terço crianças, e afetaram cerca de 33 milhões de pessoas.

As inundações cobriram cerca de um terço do país, destruindo residências e deixando dezenas de milhares de indivíduos isolados em estradas, sem acesso a comida ou água potável.

O desastre prejudicou significativamente a infraestrutura básica. Estima-se que cerca de 30 mil escolas, duas mil unidades de saúde e 4,3 mil sistemas de fornecimento de água tenham sido danificados ou completamente destruídos, conforme relatado pelo Unicef.

A agência observou que a crise climática agravou as disparidades pré-existentes para famílias e crianças nas áreas afetadas. Antes das enchentes, um terço das crianças já estava fora da escola, os níveis de subnutrição eram alarmantes e o acesso limitado a água potável e saneamento gerava sérias preocupações.

À medida que o volume das enchentes recuou, surtos de doenças transmitidas pela água eclodiram, afetando principalmente crianças. Pais aflitos buscavam desesperadamente assistência médica quando seus filhos eram acometidos por enfermidades como diarreia, disenteria, dengue e malária.

Espera prolongada e novos problemas

Enquanto isso, as autoridades da província oriental paquistanesa de Punjab trabalham contra o tempo para evacuar pessoas das áreas afetadas pelo transbordamento do rio Sutlej. Desde 1º de agosto, mais de cem mil pessoas foram resgatadas de regiões isoladas nos distritos de Kasur e Bahawalpur.

Há mais de seis meses, uma conferência apoiada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra reuniu dezenas de países e instituições internacionais, comprometendo-se a disponibilizar mais de US$ 9 bilhões para ajudar o Paquistão na recuperação e reconstrução após as enchentes do verão passado. No entanto, a maior parte desses compromissos se materializou na forma de empréstimos para projetos que ainda estão em fase de planejamento.

O Unicef instou o Paquistão e as agências humanitárias a intensificar e sustentar o investimento em serviços sociais essenciais para crianças e famílias. Fadil destacou que, embora as águas das enchentes tenham recuado, os desafios persistem nessa região climaticamente volátil.

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