Vietnã intensifica recuperação de território no Mar da China Meridional

Relatório divulgado nesta semana mostra que o trabalho vietnamita nas Ilhas Spratly gerou cerca de 170 hectares de novas terras, elevando a área total que Hanóis recuperou na última década para 220 hectares

Vietnã realizou uma grande expansão do trabalho de dragagem e aterro em vários de seus postos avançados no Mar da China Meridional durante o segundo semestre deste ano, recuperando cerca de 80% de novas terras, segundo apontou estudo. É lá, mais especificamente nas Ilhas Spratly, também reivindicadas pela China, que Beijing militarizou totalmente três de suas ilhas artificiais, atividade classificada por Hanói como “ilegal”. As informações são da rede Radio Free Asia.

Segundo o relatório intitulado “A maior expansão Spratly do Vietnã”, coordenado pela Iniciativa de Transparência Marítima da Ásia (AMTI, da sigla em inglês) e apresentado na quarta-feira (13) no think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), com sede em Washington, apesar dos esforços, a área total de recuperação do Vietnã até o momento ainda é inferior a 20% em relação à da China.

O trabalho vietnamita criou 170 hectares de novas terras nas Ilhas Spratly, que além da China têm como postulantes à soberania Taiwan, Vietnã, Brunei, Malásia e Filipinas. Não é à toa que a região é alvo de disputas geopolíticas: as rotas mantêm um fluxo de comércio anual de US$ 3,4 trilhões.

“A escala do trabalho do aterro, embora ainda esteja muito aquém dos mais de 3,2 mil acres de terra criados pela China de 2013 a 2016, é significativamente maior do que os esforços anteriores do Vietnã e representa um grande passo para reforçar sua posição nas Spratlys”, detalhou o relatório.

Filipinas exigem retirada de 200 navios chineses em recife disputado
Mar do Recife de Whitsun, no arquipélago de Spratly, reivindicado diversas nações, em setembro de 2011 (Foto: Divulgação/Winter is Coming)

Apenas China, Filipinas e Vietnã são conhecidos por terem recuperado terras para novas construções em suas ilhas e recifes ocupados. 

Paralelamente, acredita-se que Beijing tenha finalizado os trabalhos de construção e militarização de Subi, Fiery Cross e Mischief Reef, três de suas ilhas artificiais dentro do arquipélago Spratly. Subi é a segunda maior estrutura natural das Ilhas Spratly, atrás apenas de Taiping, atualmente ocupada por Taiwan. Quem mais teme a forte presença militar da China por ali são as Filipinas, cujo território fica a apenas 12 milhas náuticas do recife.

Quanto à expansão do Vietnã, de acordo com o relatório, ela irá permitir que os postos avançados recebam embarcações maiores, incluindo navios militares.

Segundo a AMTI, os métodos do Vietnã têm sido “consideravelmente menos prejudiciais ao meio ambiente em geral, embora, é claro, destruir 520 acres de recife de coral ainda seja muito ruim para o meio ambiente e a pesca”. Também destacou que o país asiático usou “dragas de concha para recolher seções de recifes rasos e depositar o sedimento em aterros”.

Do outro lado, Beijing acusou Hanói de reforçar “características mantidas ilegalmente” por meio de recuperação de terras e implantação militar, além de “estabelecer defesas e operar nessas ilhas e recifes”.

Apesar dos consideráveis avanços de Hanói, o relatório diz que a China recuperou seis vezes mais terras em dez anos.

Por que isso importa?

Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação”.

Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para patrulhar, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo o comandante dos EUA no Indo-Pacífico, almirante John C. Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.

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