Xi Jinping está ‘preparando o povo chinês para a guerra’, diz ex-conselheiro de Trump

Para o tenente-general da reserva H. R. McMaster, Beijing tem em mente uma ação militar com o objetivo de controlar Taiwan

A China está preparando suas forças armadas e o povo chinês para uma guerra contra Taiwan. O alerta foi dado no domingo (1º) em entrevista a uma emissora americana por Herbert Raymond McMaster, tenente-general aposentado do Exército dos EUA e ex-conselheiro de segurança nacional do governo Trump, segundo repercutiu a revista Insider.

Falando ao programa Face The Nation, da rede CBS, McMaster disse acreditar que a China estaria se preparando para uma ação militar com o objetivo de controlar a nação insular. E que, diante do cenário de tensões crescentes na Ásia, em se tratando de uma ameaça de conflito entre Beijing e a ilha semiautônoma, seria bom Washington ficar alerta “para não cair nas mesmas armadilhas” preparadas pelo chefe do Kremlin na guerra contra a Ucrânia.

“Acho que temos que ter cuidado para não espelhar a imagem, para não cairmos nas mesmas armadilhas que caímos com Vladimir Putin, de viés de confirmação e viés de otimismo”, disse H. R. McMaster sobre o líder russo, que autorizou o início de sua assim chamada “operação militar especial” no dia 24 de fevereiro do ano passado, conflito que está prestes a completar um ano.

H. R. McMaster durante Conferência de Segurança em Munique, Alemanha, em 2018 (Foto: WikiCommons)

Para sustentar seu ponto de vista, o militar aposentado observou que o presidente chinês, ao usar de sua retórica pautada na restauração da grandeza nacional da China, foi bastante direto em suas declarações recentes ao abordar a questão Taiwan.

Xi Jinping deixou bem claro, em suas declarações, que ele fará, de sua perspectiva, a China inteira novamente ao incluir Taiwan”, disse McMaster. “E os preparativos estão em andamento”.

McMaster disse que a melhor forma de evitar um conflito em Taiwan é a “dissuasão”. E instou Washington a aumentar sua presença militar na região da Ásia-Pacífico. 

“Falamos muito sobre confiar em nossos aliados. E, talvez, se dermos um passo atrás, os aliados farão mais”, disse McMaster. “Acho que, na verdade, é o oposto. Se os americanos fizerem um pouco mais, muitos de nossos aliados seguirão o exemplo e reforçarão suas capacidades e capacidades defensivas também”.

O alerta de McMaster segue outras indicações de que Beijing pode estar considerando uma guerra por causa de Taiwan. Em outubro, durante o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), Xi abordou de forma inquietante esta que é uma das questões mais espinhosas da nação. À época, o presidente chinês disse que, embora a intenção no assunto Taiwan seja reintegrar o território por meio da paz, a China não fará concessões quanto ao uso de força.

Na mesma ocasião, Xi também abordou a “interferência de forças externas”, dizendo que a questão com o território semiautônomo é “assunto do próprio povo chinês”, e, sendo assim, a decisão caberia tão somente aos chineses. 

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no Congresso do PCC. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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