A China anunciou na quarta-feira (12) que vai eliminar todas as tarifas de importação sobre produtos vindos de 53 países africanos que mantêm relações diplomáticas com Beijing, consolidando sua posição como principal parceiro comercial da África e ampliando a pressão sobre os EUA. A decisão foi apresentada durante um encontro ministerial com representantes africanos no âmbito do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), segundo relato do jornal South China Morning Post.
A única exceção ao pacote de isenções é Eswatini, único país africano a reconhecer oficialmente Taiwan como uma nação independente. O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou em carta lida no evento que a medida busca “fornecer mais conveniência para que os países menos desenvolvidos da África exportem para a China” e que o país está disposto a facilitar o acesso ao mercado por meio de mudanças nos processos alfandegários, sanitários e de inspeção.

Com isso, mais 20 nações — a maioria de renda média — se somam às 33 já beneficiadas desde 2024 com a isenção tarifária. Segundo a consultora Hannah Ryder, CEO da Development Reimagined, baseada em Beijing, “não se trata apenas de um gesto simbólico”. Para ela, a decisão representa “uma mudança estrutural nas relações comerciais entre África e China”, pois corrige distorções criadas quando apenas os países mais pobres se beneficiavam das tarifas reduzidas.
A medida foi anunciada em meio ao aprofundamento das disputas comerciais com os Estados Unidos. Durante o encontro, ministros africanos e autoridades chinesas acusaram Washington de “perturbar a ordem econômica e comercial global” e prejudicar o desenvolvimento coletivo. Eles pediram que os EUA “retornem ao caminho de resolução de disputas comerciais com base na igualdade, respeito e benefício mútuo”, segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores da China.
A disputa ganha ainda mais relevância diante do enfraquecimento do principal programa comercial dos EUA com a África, o African Growth and Opportunity Act (AGOA ), que deve expirar em setembro e teve seus benefícios reduzidos após o governo Trump adotar tarifas de até 50%. Hoje, o comércio total entre China e África alcança quase US$ 300 bilhões, enquanto o volume entre África e EUA foi de apenas US$ 71,6 bilhões em 2024.