Acúmulo de vacinas em países ricos acabará em prejuízo global, diz estudo

Dano econômico pode chegar a US$ 9 trilhões – semelhante à produção anual do Japão e da Alemanha juntos

A acúmulo de vacinas nos países ricos deve aprofundar os danos econômicos deixados pela pandemia no mundo todo. O alerta é de uma pesquisa publicada pelo Centro Nacional de Pesquisa Econômica, que reúne estudos de centros de ponta nos EUA.

O texto está embargado até segunda (1), adiantou o jornal “The New York Times”. Conforme os especialistas, ao monopolizar o fornecimento de vacinas contra a Covid-19, as nações desenvolvidas poderão ser tão atingidas quanto os países mais pobres.

A ameaça supera uma catástrofe humanitária, segundo os pesquisadores. A perda poderá ser superior a US$ 9 trilhões – soma maior que toda a produção anual do Japão e da Alemanha, juntos. Países como os EUA e Reino Unido absorveriam quase metade desses custos.

Monopolização de vacinas em países ricos acabará em prejuízo global, diz estudo
Vendedores de rua no centro comercial de Medellín, Colômbia, em dezembro de 2020 (Foto: FMI/Joaquin Sarmiento)

A Câmara do Comércio Internacional encomendou o estudo. Segundo os especialistas, todas as nações devem ter interesse na distribuição equitativa de vacinas – especialmente dos países com maior dependência do comércio.

Os resultados contrapõem o senso comum de que compartilhar vacinas com os países pobres seria apenas um “ato de caridade”. “Claramente, todas as economias estão conectadas”, disse a economista Selva Demiralp, uma das autoras do estudo.

“Nenhuma economia será totalmente recuperada a menos que as outras economias também estejam”, enfatizou ela. O cenário classificado pelos pesquisadores como o “mais provável” considera que metade da população global estará imunizada até o final do ano.

Ainda assim, as perdas econômicas, sem o acúmulo total das vacinas pelas nações ricas, seriam de entre US$ 1,8 trilhão e US$ 3,8 trilhões – mais da metade desse montante concentrado em países ricos.

Covax longe da meta

Até agora, a iniciativa Covax, gerenciada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para levar a vacina aos países mais pobres, garantiu cerca de US$ 11 bilhões em recursos. A meta é alcançar US$ 38 bilhões.

“À primeira vista, pode parecer uma soma exorbitante”, disse Demiralp. “Mas é uma ninharia se comparada aos custos de se permitir que a pandemia continue”.

Analistas já apontam que países como Bangladesh, Tanzânia e Peru, por exemplo, só terão uma imunidade superior a 90% da população a partir de 2024.

“Enquanto o vírus prosperar, cadeias de abastecimento globais ficarão interrompidas e o comércio internacional sofrerá as consequências”, conclui a pesquisa. Além do caos social e econômico, os líderes de nações mais ricas verão prejudicadas importantes fontes de recursos no exterior.

“Comprar vacinas para todos não é um ato de generosidade, mas um investimento essencial para os governos que quiserem reviver suas economias domésticas“, disse John Denton, secretário-geral da Câmara de Comércio Internacional.

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