ARTIGO: Combatendo o terrorismo durante a pandemia da Covid-19

Vice-liderança em Contra-Terrorismo na ONU debate como extremistas usam pandemia para ganhar posições

Este artigo foi publicado originalmente no portal da ONU no Brasil.

por Vladimir Voronkov, subsecretário-geral do Escritório de Contra-Terrorismo da ONU

Os amplos impactos da Covid-19 têm o potencial de agravar queixas, minar a coesão social e alimentar conflitos, criando condições propícias para disseminação do terrorismo e do extremismo violento. Os terroristas estão explorando as perturbações, incertezas e dificuldades econômicas causadas pela Covid-19 para espalhar medo, ódio e divisão, além de radicalizar e recrutar novos seguidores.

Enquanto governos de todo o mundo estão focados no combate ao vírus, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL) e a Al Qaeda se adaptaram ao novo contexto, com o objetivo de se reafirmar online e offline, e instigar seus seguidores e afiliados a acelerar os ataques.

A pandemia também destacou vulnerabilidades às novas narrativas violentas de extremistas favoráveis ao terrorismo, bem como formas emergentes de terrorismo, incluindo ataques cibernéticos contra instituições de saúde.

ARTIGO: Combatendo o terrorismo durante a pandemia da COVID-19
Vladimir Voronkov, subsecretário-geral do Escritório de Contra-Terrorismo da ONU (Foto: UN Photo/Manuel Elias)

Ameaças globais mortais, como o terrorismo e a Covid-19, exigem que ajamos juntos, com um renovado senso de unidade e solidariedade. Neste ano em que as Nações Unidas completam 75 anos, o multilateralismo é tão essencial agora quanto no final da Segunda Guerra Mundial.

Para desempenhar nosso papel, as Nações Unidas realizaram uma “Semana Virtual de Combate ao Terrorismo”, com dez discussões interativas para avaliar os desafios estratégicos e práticos de combater o terrorismo em um ambiente de pandemia global.

O evento reuniu governos, organizações da sociedade civil e representantes do setor privado, além de organizações juvenis e regionais de todo o mundo para compartilhar análises de especialistas, trocar ideias inovadoras e fortalecer a cooperação internacional contra o terrorismo.

Então, quais foram as principais conclusões da Semana? Ouvimos como as ameaças terroristas provavelmente continuarão a se diversificar, com a possibilidade de ataques que envolvam ataques cibernéticos a redes e sistemas críticos de infraestrutura, agentes biológicos, armamento de doenças mortais e discurso de ódio.

Houve um amplo consenso de que as tensões causadas pela Covid-19 testarão severamente a resiliência e a coesão de nossas sociedades nos próximos anos.

Isso enfatizou a importância de medidas preventivas e o envolvimento de todas as partes da sociedade, especialmente mulheres e jovens, no desenvolvimento e na implementação de políticas e programas de combate ao terrorismo.

Também foi reforçado o apelo do Secretário-Geral a um cessar-fogo global para combater o vírus, aliviar o sofrimento humano e interromper o ciclo de violência em que o terrorismo pode prosperar.

Houve um amplo consenso entre os palestrantes de que é mais crítico do que nunca que as respostas ao combate ao terrorismo protejam e promovam totalmente os direitos humanos e o estado de direito, uma vez que o abuso potencial é maior no contexto da Covid-19.

A liberdade de expressão e o direito à privacidade são casos em questão. A terrível situação nos campos e centros de detenção com estrangeiros suspeitos de terrorismo e milhares de mulheres e crianças associadas na Síria e no Iraque, outro tópico discutido durante a Semana Virtual de Combate ao Terrorismo, permanece um desafio.

Todos temos a responsabilidade de repatriar urgentemente o maior número possível de pessoas, a fim de proporcionar, conforme o caso, um processo justo, a reabilitação e a reintegração na sociedade. As crianças devem vir primeiro e ser repatriadas sem demora.

Terroristas se adaptaram ao novo mundo da Covid-19, e nós também precisamos. As Nações Unidas têm sido ágeis em mudar sua maneira de trabalhar para apoiar melhor os esforços dos países e comunidades locais para prevenir e combater o terrorismo em todo o mundo.

Cada vez mais, estamos usando ferramentas de ensino à distância, para mudar nossos programas de treinamento online, e utilizando plataformas de comunicação modernas para interagir com novos públicos, especialmente jovens.

Na semana passada, lançamos uma Exposição Virtual envolvendo mapas interativos, histórias atraentes e vídeos informativos para mostrar o trabalho impactante de capacitação do Centro de Contra-Terrorismo das Nações Unidas no Escritório de Contra-Terrorismo da ONU, confirmando sua reputação como um Centro de Excelência global. Este trabalho só é possível graças às generosas contribuições financeiras de uma ampla gama de países doadores.

Ao celebrarmos em 26 de junho o 75º aniversário da adoção da Carta das Nações Unidas, o secretário-geral António Guterres enfatizou como a pandemia da Covid-19, uma crise humana sem precedentes em nossas vidas, “sublinhou as fragilidades do mundo”. Precisamos de uma resposta sem precedentes para impedir que os terroristas se aproveitem dessas fragilidades.

Devemos trabalhar juntos para garantir que a Covid-19 não se torne o catalisador de um aumento no terrorismo global e no extremismo violento, que explora as antigas desigualdades sociais, políticas e econômicas e o descontentamento exposto pelo vírus.

Devemos revisar, adaptar e fortalecer continuamente nossos esforços de combate ao terrorismo para ficar um passo à frente daqueles que procuram nos fazer mal. Apoiar as vítimas do terrorismo e impedir que mais inocentes se tornem um deles deve ser nossa prioridade.

As discussões virtuais da última semana mostraram que hoje, em meio a uma pandemia global, é mais importante do que nunca trabalhar coletivamente, com propósito e determinação comuns, para construir sociedades resilientes e livrar o mundo do terrorismo.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino. Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos. Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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