Brasil, Índia e Indonésia lideram o grupo de países emergentes que começaram a flexibilizar as medidas de restrição mesmo com o crescimento do número de infecções pelo novo coronavírus. O motivo é a forte retração econômica. As informações são do jornal britânico Financial Times.
Esses países — além de México, Rússia e África do Sul — somam mais de um quarto da população global, são responsáveis por exportações importantes e têm tomado decisões controversas de começar a retornar à vida normal.
Na Índia, o primeiro-ministro Narendra Modi impôs uma das quarentenas mais rigorosas no dia 24 de março. Dois meses depois, aproximadamente 140 milhões de trabalhadores sofreram com a perda de renda e o número de casos de coronavírus superou o da China.
Nesta sexta (22), o país já tinha registrado 112 mil casos do coronavírus e 3,4 mil mortes, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Modi acredita que a crise global representa uma oportunidade de atrair investimentos de grupos interessados em diversificar suas cadeias de abastecimento longe da China, se a Índia conseguir voltar ao trabalho.
A flexibilização varia de acordo com a área, dependendo do número de casos e das condições de saúde. As decisões do premiê tem sido endossadas pela comunidade empresarial e por ativistas sociais.
Indonésia
O governo estuda reabrir a maior economia do sudeste da Ásia até o final de julho ou começo de agosto. O governo afirma que a crise tem castigado os trabalhadores da economia informal.
O ministro das Finanças do país, Sri Mulyani Indrawati, afirmou que a pandemia deixou 2 milhões de desempregados e eliminou os ganhos conquistados na redução da pobreza na última década.
Os atrasos para implementar medidas de distanciamento social podem prejudicar a recuperação da Indonésia. O país tem 20,1 mil infecções confirmadas e 1,2 mil mortes, segundo a OMS.
México
Diante da pressão de fabricantes dos Estados Unidos, o setor automotivo mexicano pode retomar suas atividades antes do dia 1º de junho. Será preciso seguir protocolos de saúde.
O presidente Andrés Manuel López Obrador considerou a indústria como essencial, ao lado da mineração e da construção civil. A fabricação de automóveis é responsável por quase 4% do PIB mexicano.
A previsão era de que o retorno ocorresse no último dia 18, mas determinação foi revogada. Na sequência, foram estipuladas regras de saúde rígidas, mas consideradas vagas, para a conduta das três indústrias consideradas essenciais pelo governo do México.
O país já registrou 56,5 mil casos de Covid-19 e seis mil mortes em decorrência do vírus, de acordo com a OMS.
Brasil

Jair Bolsonaro considerou a pandemia como uma “neurose” e pressionou os governadores a suspender as medidas de restrição. No último domingo (17), o presidente brasileiro fez flexões com os apoiadores durante um protesto contra a quarentena.
Dias antes, ele havia assinado um decreto que permitia o funcionamento de salões de beleza, academias e bares, considerando-os atividades essenciais.
Dois ministros da Saúde já deixaram o cargo em menos de um mês, devido a desentendimentos com o presidente da República. O maior país da América do Sul se tornou um foco do vírus no mundo emergente, com 291 mil casos confirmados e quase 19 mil mortes.
Rússia
Vladimir Putin adotou medidas flexíveis, pressionado pela queda no preço do petróleo, mesmo sendo o segundo país com o maior número de casos confirmados — são 317 mil e 3 mil mortes.
Semana passada, centenas de milhares de pessoas retornaram ao trabalho. O governo espera uma retração de 6% na economia. Já o índice de desemprego dobrou desde o começo da quarentena, em março.
Pesquisas apontam que menos da metade das famílias russas tem economias suficientes para um mês. O pacote econômico russo, equivalente a cerca de 3% do PIB, é menor que o de muitos países europeus.
África do Sul
O presidente Cyril Ramaphosa foi aplaudido ao adotar rápidas medidas para conter o vírus na África do Sul, um dos países mais industrializados do continente africano. As restrições foram impostas em março, antes mesmo de o país registrar a primeira morte pela doença.
No entanto, o presidente está sob crescente pressão diante do risco de pobreza generalizada em uma economia já estagnada e desigual. A estratégia no país pode ser a de manter altos níveis de restrições em centros urbanos e centros de abastecimento, enquanto flexibiliza medidas em outras regiões.