Guerra fronteiriça na América Central está longe de acabar, dizem exportadores

Pandemia do coronavírus gerou mudanças e insegurança quanto ao transporte terrestre na América Central

A guerra fronteiriça de exportadores dos países da América Central — sobretudo entre Nicarágua, Costa Rica e Panamá — está longe de acabar, diz a Fecaexca (Federação de Câmaras e Associações Exportadores da América Central e Caribe). As informações são do jornal La Prensa.

A disputa começou com a pandemia do novo coronavírus, já que a Nicarágua tem escondido os números de mortes e contaminados. A vizinha Costa Rica chegou a pedir uma avaliação independente da conduta nicaraguense quanto à Covid-19.

Para os membros da associação, o acordo que irá elaborar um protocolo de biossegurança para o transporte de carga é o primeiro passo, mas não o suficiente para acabar com as disputas.

Ainda é necessário abordar questões de migração e aduaneiras, segundo o presidente da Fecaexca e da Apen (Associação de Produtores e Exportadores da Nicarágua), Guillermo Jacoby.

A Fecaexca manifestou preocupação em relação às medidas adotadas pela Costa Rica, a primeira a tomar ações unilaterais em suas fronteiras, colocando em risco o abastecimento de alimentos e remédios e o fluxo do comércio regional.

De acordo com uma nota divulgada pela organização, as medidas são consideradas pouco viáveis para a realização das operações de transporte de carga. A Fecaexca chamou atenção ainda para a situação dos motoristas que estão nas fronteiras, no que chamaram de “condições deploráveis”.

A Nicarágua já decidiu aplicar medidas recíprocas à Costa Rica, estabelecendo um máximo de 72 horas para os motoristas costarriquenhos ficarem no país e que aqueles que tem destino final a Nicarágua deixem as cargas em armazéns fiscais.

No entanto, especialistas apontam que o uso dos armazéns gerariam um custo adicional, repassado ao consumidor, o que torna a solução inviável. Dessa maneira, produtos vindos de outros países continuariam sendo mais competitivos.

Guerra fronteiriça na América Central está longe de acabar, dizem exportadores
Fronteira terrestre em Costa Rica e a Panamá (Foto: Wikimedia Commons)

Protocolo de biossegurança

O protocolo impõe medidas obrigatórias durante o processo de entrada e saída dos países que fazem parte do Sistema de Integração Centroamericana: Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Panamá e Belize.

Com foco no enfrentamento ao novo coronavírus, serão realizadas nas fronteiras medições de temperatura e controle de sintomas em pontos de carga e descarga.

Um certificado será emitido para certificar de que o condutor não foi diagnosticado com a doença e pode seguir seu caminho. O manejo das cargas ocorrerá de maneira mecanizada, para que os funcionários não tenham contato com as mercadorias.

Assim que chegarem aos seus destinos finais, os motoristas devem deixar o país rapidamente. Cada membro definirá se, em seu território, o percurso do motorista será monitorado por GPS ou por escolta.

Balsa comercial

Uma das medidas discutidas entre os países da América Central, em meio à crise nas fronteiras, está o desenvolvimento de um projeto de uma balsa comercial.

No entanto, apesar de ser considerada uma opção viável, especialistas apontam que essa não é uma solução que poderia ser colocada em prática em curto prazo.

Desde 2018, com o início da crise sociopolítica na Nicarágua, foi constatado que era necessário outra alternativa além do transporte terrestre na América Central.

A necessidade de uma rota alternativa fez com que várias empresas de navegação de El Salvador e da Costa Rica reativassem o projeto de instalar uma balsa. A solução reduziria o tempo de transporte e seria uma solução além das vias terrestres.

Perdas

El Salvador estima que as perdas geradas pelos conflitos nas fronteiras tenha ocasionado perdas de US$ 40 milhões em 11 dias. Uma só empresa corre o risco de perder US$ 400 mil.

O comércio entre a Guatemala e a Costa Rica soma diariamente US$ 1,2 milhão em exportações e US$ 1,9 milhão em importações.

O número deve reduzir, já que as disputas têm afetado mais de 750 empresas da Guatemala. No Panamá, a cada dia que a fronteira está fechada são perdidos US$ 1,5 milhão.

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