O número de casos confirmados do novo coronavírus no Haiti tem crescido de maneira dramática nas últimas semanas. De acordo com o MSF (Médicos Sem Fronteiras), os registros passaram de 100 para 2,6 mil em um período de três semanas.
Nesta segunda (8), o monitoramento da OMS (Organização Mundial da Saúde) registrava mais de 3 mil casos da doença e 50 mortes.
Apenas dois laboratórios no Haiti processam os testes de diagnóstico do Covid-19, o que aumenta a subnotificação dos casos no país.
A capital Porto Príncipe, com 4 milhões de habitantes, é o epicentro do surto no território haitiano. Ali, há quase 75% do total de casos em todo o país e 60% das óbitos.
A maior parte das pessoas (60%) diagnosticadas com a doença tem entre 20 e 44 anos, fora do grupo considerado de risco pelos especialistas. Em segundo lugar nos registros, com 27%, estão pessoas entre 45 e 65 anos.
Dificuldades
Foram relatados casos em todos as 10 divisões administrativas do país e o governo declarou estado de emergência, com pedidos de que as pessoas praticassem o distanciamento físico e usassem máscaras de proteção.
No entanto, a população tem enfrentado dificuldades em seguir as recomendações para impedir a propagação do vírus. O problema é ainda mais grave entre as pessoas que moram nas favelas densamente povoadas da capital, onde o maior número de casos tem sido relatado.
Outro desafio enfrentado pelo país está o retorno de milhares de haitianos da vizinha República Dominicana, que registra o maior número de casos de coronavírus do Caribe. Já são 19,6 mil casos e 538 mortes, de acordo com a OMS.
O MSF alertou ainda que muitas pessoas com sintomas do coronavírus não estão procurando atendimento médico. “Como a propagação do vírus se acelera, o estigma que o envolve também”, afirmou o chefe da missão do MSF no Haiti, Hassan Issa.
Muitos infectados chegam aos hospitais em estado crítico e muitos deles acabam não sobrevivendo devido ao estágio avançado da doença.
O frágil sistema de saúde haitiano também é uma grande preocupação. Diversas unidades de saúde já fecharam devido à falta de equipamentos de proteção e à contaminação dos funcionários.
Vulnerabilidade socioeconômica
No Haiti, dos 11 milhões de habitantes, seis milhões vivem abaixo da linha da pobreza. Estima-se que 40% da população, ou dois em cada cinco haitianos, sofra com insegurança alimentar, segundo o Ecosoc (Conselho Econômico e Social das Nações Unidas).
Além disso, a temporada de furacões, que acontece entre junho e novembro na região, pode agravar ainda mais os problemas da nação caribenha.
A organização acredita que o coronavírus tem o potencial de agravar a crise humanitária, econômica e de direitos humanos no país. Há temores de agravamento das vulnerabilidades já existentes, levando mais pessoas à pobreza.
País mais pobre das Américas, o Haiti convive com instabilidade institucional e miséria generalizada. A situação deteriorou-se após o terremoto de 2010. Na ocasião, ao menos 300 mil haitianos morreram.
As crianças, por exemplo, correm o risco de terem o crescimento comprometido. Muitas dependem da alimentação dada nas escolas, agora fechadas por causa da pandemia.
O Ecosoc chama atenção para a possibilidade da confiança dos haitianos nas instituições se deteriorarem ainda mais, aumentando as tensões políticas e sociais.